Era a festa de cinco anos do menino.
Ele recém mudara de escola, por isso estava reunindo mais gente do que nos anos anteriores. Tinha convidado os guris da primeira escola e os colegas da escola nova.
É. Gente é o que não faltava mesmo – pensou a avó, enquanto recordava as festas tão magrinhas que se faziam antigamente.
Festa grande acaba em uma montanha de presentes – o menino tinha certeza disso. Oba! Mesmo assim, arregalou os olhos para os dois sacos muito cheios. Nem ele poderia imaginar esse tamanho. Nos sacos cabia tanta coisa que a mãe quase não conseguia levar escada acima. Nessa hora em que acabava oficialmente a festa, vinha o melhor da festa… (isso o menino se lembrou). Era a hora de ver o que tinha dentro dos pacotes.
Um a um, o menino foi se apossando dos embrulhos. De pé, junto da pilha, os olhos brilhavam no afã de tomar conta daquele mundaréu de coisas. Era quase o olhar de Napoleão passando em revista os prisioneiros derrotados… (isso pensou a avó, que olhava a cena). As embalagens coloridas tinham laços e fitinhas de forma variada e linda. O papel brilhava, frisado no capricho. Mas o menino não reparava nada. Dava um puxão e ia afrouxando laços. Ia rasgando. Ia descolando onde havia durex. Ia jogando os envoltórios para o lado. Pisava no papel espedaçado sem dó e sem piedade. Avançava sempre. Queria abrir e abrir e abrir a pacotama. Mal olhava o conteúdo e já atacava o próximo. A tarefa principal era rasgar papel e desviar do volume resultante.
Foi e foi até que terminou. Aquela montoeira de presentes jazia aí, destripada, diante do menino: caixas abertas, plásticos furados, papel amarrotado, sacos vazios. Ufa!
Com tantos brinquedos bem na frente dele, enfim, o menino se sentiu cansado.
Ele tinha atravessado uma festa inteira. Tinha brincado como o recreacionista dissera que os guris deviam brincar. Tinha comido o cachorro-quente que a mãe dissera que devia comer. O menino tinha ouvido a música alta que tocara a festa toda. Agora estava cansado e não se animou a encaixar peças de quebra-cabeça, nem a dar corda para fazer andar o aviãozinho. O menino não pensou em convidar o irmão para jogar o jogo novo. O menino mal olhou a fantasia do Iron Man. O menino desistiu de fazer picar a bola para ouvir um som tocar lá dentro. O menino não abriu o livro, sequer espiou as figuras coloridas. O menino recusou testar o pula-piratinha. Nem se importou que a mãe levasse para o quarto umas caixas para abrir quando ele crescesse mais. O menino bocejou sem empunhar a espada a laser. Bocejou, em vez de montar peças de playmobil. Bocejou de novo.
Cansado, o menino se encostou no sofá e começou a brincar com as fitas espalhadas, aquelas mesmas que há pouco enfeitavam os pacotes dos presentes.
Quando o viu brincando com as fitas, a avó teve que rir. Ela achou graça em medir o avanço entre um tempo e outro. O menino, agora, não precisava de nenhum brinquedo. Bastavam as fitinhas. E ela, ela talvez tivesse desmaiado de emoção, caso fosse dona dessa maravilha toda, no aniversário de cinco anos dela!