Nos anos 60 e 70 do século passado, o perigo da superpopulação do planeta tirava o sono de autoridades. Acreditava-se que em algumas décadas sobreviria fome generalizada. Seria impossível produzir alimentos suficientes para uma população que se multiplicava em ritmo descontrolado.
Décadas depois, sabemos que esse panorama não se confirmou. O mundo deu uma guinada, fazendo mudar a pauta das preocupações. O receio de superpopulação foi dissipado por um movimento no sentido contrário. Sucedeu exatamente o inverso das previsões: a natalidade caiu. A população mundial parou de crescer em quase todos os continentes. Só a África e algumas partes da Ásia mantêm alta natalidade. Em certos países, a baixa populacional chega a ser dramática. É o caso da Coréia do Sul, onde a taxa de fertilidade das mulheres está na casa dos 0,87 filhos, quando são necessários 2,1 filhos por mulher, para repor a população. No Brasil, desde o ano 2000 a fertilidade registrada não é suficiente para equilibrar o número de nascimentos e mortes.
Por outro lado, o medo de não haver alimentos suficientes ficou afastado e não unicamente pela queda da natalidade. Houve avanço exponencial da capacidade de produzir comida. Hoje os alimentos abundam no mundo. Se continua a haver fome, isso não se deve à falta. A produção de alimentos é mais do que suficiente. A fome agora tem mais a ver com a desigualdade social do que com a carestia. Necessário é distribuir a renda de modo que todos possam pagar pela comida.
Na contramão, portanto, das expectativas, o desafio que agora assusta tem a ver com a administração de uma sociedade de poucos jovens – resultado da baixa natalidade – e de muitos velhos – resultado das melhores condições de vida.
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Em termos planetários, uma consequência de todo esse movimento é a diminuição da população de raça branca. Só outras populações continuam crescendo. É o que se dá notadamente com negros e indianos.
Bom, aqui está o ponto. Pode ser que, por caminhos inesperados, o racismo venha a ser posto em cheque. Sucede que os países ricos, de população branca, já acenderam o alerta pela falta de mão de obra. Esses países começam a multiplicar medidas para atrair imigrantes jovens. África e Índia têm os maiores contingentes de jovens dispostos a emigrar. Eles estão sendo chamados.
Depois de o mundo branco ter escravizado pessoas de pele escura durante séculos, depois de ter exaltado a superioridade da raça branca, agora cria políticas para atrair africanos, mas na condição de convidados muito bem-vindos. É sabido que, se não forem bem tratados, eles não permanecerão. A nova situação, por ironia, parece que vai impor uma revisão nas crenças sobre a superioridade da raça branca. Os brancos terão de engolir o racismo. Se no passado foi impossível compreender que o racismo é uma invenção cruel, é provável que agora a realidade fale mais alto.
O caso dos atletas negros que estão se rebelando contra manifestações de desprezo em campos de futebol da Europa pode ser um sinal de que o mundo está mudando. Enfim!