O anúncio da descontinuidade da atividade da suinocultura na Cooperativa Languiru e busca por investidores dispostos a assumirem ou comprarem a cadeia produtiva dos suínos, mexe com as expectativas dos suinocultores associados. A diretoria já liberou produtores negociarem alojamento com outras integradoras. (mais detalhes na página 03)
Em Arroio do Meio a Cooperativa Languiru possui 80 associados na bovinocultura de leite, 15 na bovinocultura de corte, 10 na suinocultura e três na avicultura. No total 8.540 suínos estão deixando de ser alojados.
O bovinocultor e suinocultor Silvio Roberto Korte, 45 anos, da Cascalheira é associado a Languiru há 10 anos. Ele teve o último lote de suínos recolhidos em 8 de março sem realojamento. Apesar da perda gradativa da qualidade da ração nos últimos meses, Korte revela que a cotação do kg do suíno esteve de acordo com as práticas do mercado e também não ocorreram transtornos logísticos. “Fizemos investimentos para dobrar nossa capacidade de alojamento, em cima das perspectivas que nos foram apresentadas pela própria cooperativa num momento em que não havia expectativa de crise. Estamos esperando definições, pois indiretamente os associados estão ligados à dívida. Os suinocultores já foram liberados a procurarem outras integradoras. No entanto, a maioria aguarda um direcionamento da cooperativa. Produtores com capacidade inferior a mil suínos por lote terão mais dificuldades em buscar novas parcerias. Cada integradora tem suas exigências em torno de adequações”, observa.
Apesar da perda de renda da suinocultura, Silvio, reitera que a parceria com a Lactalis mantém a cadeia leiteira da cooperativa sólida. Sua propriedade produz em média 450 litros diários. “Felizmente também produzimos grãos e prestamos serviços terceirizados, que complementam a renda da propriedade”, esclarece. Korte acredita que a estabilização das commodities a preços retraídas vai trazer perspectivas favoráveis para o segmento de proteína animal em médio prazo.
“Uma situação totalmente inesperada. Inúmeros são os produtores com obrigações junto a instituições financeiras”
A propriedade da família do produtor Alexandre Telöken, de Forqueta é associada à Languiru há quatro anos, com capacidade para 1,5 mil suínos na fase de engorda e 26 mil frangos por lote. Segundo Alexandre, o anúncio impacta profundamente a rentabilidade da granja que está com os galpões vazios há um mês. “Estamos aguardando posicionamentos para o segmento de suínos. Nos frangos, os intervalos entre lotes estão maiores. Alojamentos estão programados a partir do dia cinco de junho”.
Ele destaca o bom relacionamento com o suporte técnico, que manteve-se eficiente, mesmo nas dificuldades. Já no fornecimento de insumos, as rações sempre foram entregues nos prazos previstos, mas notadamente os componentes nutritivos comprometidos para manutenção dos índices conversão alimentar. Além de não aumentarem o peso, os animais também recusavam a ração, provavelmente por não ter sabor e texturas adequadas. Aliado a isso, houve bastante canibalismo entre os suínos, aumentando as infecções e saúde da medula.
Sobre os desafios, observa que continuamente são realizados investimentos em atualizações estruturais em função de exigências do mercado e normativas dos órgãos de regulação, necessários para manutenção e longevidade da produção. “Estamos diante de uma situação totalmente inesperada. Inúmeros são os produtores com obrigações junto a instituições financeiras. Fomos pegos de surpresa. Não sabíamos da gravidade. Acompanhamos todas as reuniões desde que começaram a expor o problema em novembro 2022. Acreditamos que no início de 2022 houve falta das análises das projeções dos cenários futuros, já que em 2021 a cooperativa já apresentava perdas em diversos segmentos. Talvez medidas de contenção poderiam ter sido tomadas, minimizando os reflexos. A alta dos juros aliada aos prejuízos de algumas das operações foi deteriorando o fluxo de caixa. Uma situação previsível. Operações gerando prejuízos e necessitando cada vez mais de empréstimos para capital de giro. E por último, quando a situação já estava muito crítica, houve redução nas produções, queda de qualidade dos produtos e consequente redução drástica das vendas, o que culminou em total falta de recursos financeiros para manter as atividades funcionando. Agora, há um cenário de prejuízos generalizados em função da falta de insumos, abates, mercadorias, tudo está operando abaixo do ponto de equilíbrio”, pontua Alexandre.
Embora a situação exposta seja extremamente complexa de ter uma resolução fácil, o associado acredita que a transparência é fundamental para buscas de alternativas. E espera que as dificuldades dos cárneos nos últimos anos, em função dos fortes aumentos de custos nos insumos como milho e farelo de soja, logística, e dificuldades de repasses para o consumidor final, sejam superadas, por meio de parcerias. “Estima-se que o contexto possa se alterar a partir dos próximos meses em função da redução acentuada dos grãos e insumos, trazendo novamente rentabilidade para o setor de forma geral”.
Foto: Solano Alexandre Linck