Tenho um casal de filhos adultos. Por isso, escrevo esta crônica com curiosidade ao invés de certeza. Minha geração tinha nos pais seres sagrados, dotados de incrível sapiência e que jamais eram questionados. Muitas vezes, é preciso reconhecer, isso era fruto da educação rígida da época – lá pelos anos 60/70. A ordem era, sempre, obedecer sem confrontar.
Hoje, quando crianças de dois anos empunham celulares de última geração na busca de animações e de filmes de super-heróis, será que os pais continuam no olimpo ou são questionados a partir da confrontação de suas ordens com uma busca no Google?
Questionar é sempre sinônimo de busca de conhecimento. Isso, porém, não se aplicava à infância e adolescência de quem nasceu antes dos anos 90. Conheço gente que até hoje guarda rancor dos pais. Isto, talvez, seja resultado da plena liberdade que a gurizada recém-saída das fraldas goza atualmente.
A piazada tem todo tipo de salvo-conduto para infringir normas de condutas então inatacáveis na minha época. Retrucar diante de uma ordem era crime de lesa pátria. Comportamentos deste tipo acarretavam castigos como proibição de sair de casa nos finais de semana até puxões de orelha e sovas com chinelo de couro e varinhas de marmelo.
Criar filhos exige persistência e disposição para repetir à exaustão frases e imposição de limitesParece evidente que passamos de uma época do “nada pode” para o “tudo pode”. Proliferam cenas protagonizadas em lugares públicos em que os pais são reféns de filhos tiranos que se aproveitam da hesitação dos responsáveis.
Apesar de não ser “um capeta em forma de guri” – como diz a música de Os Incríveis – sofri bastante na infância com castigos infligidos diante de travessuras caseiras. Aprendi, com o tempo, que vivíamos tempos diferentes e perdoei os castigos sofridos.
Como pai, perdi a conta de quantas vezes impus castigos do tipo ficar uma hora no quarto com a luz apagada aos meus filhos. Eu silenciosamente chorava de remorso, embora achasse a punição necessária. Costumo comentar estes episódios com a gurizada de casa que dá risada. Considero necessário impor limites e contrário à liberdade total porque isso, com frequência, fere a liberdade alheia, gerando adultos egoístas e arrogantes.
Criar filhos nunca foi, e jamais será, uma tarefa fácil. Exige dedicação, persistência, energia e disposição física para repetir à exaustão frases e imposição de limites. Não almejo ser o “pai herói” para os meus filhos, mas gostaria de ser lembrado como alguém vigilante, justo e amoroso. Tudo na medida certa.