É possível ser humilde no mundo de hoje e mesmo assim, obter sucesso?
É uma pergunta que parece de fácil resposta. Mas só “parece”.
Prezado leitor e prezada leitora, imagine um profissional competente – em qualquer área de atuação – e com décadas de experiência, dotado de comprovada competência e de notório saber sobreviver no mercado de trabalho sem usar redes sociais.
Cito as redes sociais porque é lá, neste nicho de ostentação, meias verdades e manipulação – de imagens e de informações – que se conquista visibilidade.
Esta vitrine humana não admite pessoas que, segundo seus conceitos, sejam fracassadas, “menos bonitas”, infelizes e sem o necessário brilho no segmento que escolheram para trabalhar.
Humildade é, de longe, a virtude mais difícil de ensinar aos nossos herdeiros. É desafio que requer dedicação e acima de tudo ser coerente, convivendo num limite tênue entre o exibicionismo e o ostracismo daqueles que ignoram a ostentação do cotidiano.
Saber “se vender” é uma habilidade de sobrevivência. Querem um exemplo? Antigamente a busca de uma vaga no mercado de trabalho consistia em redigir e imprimir o currículo, enfatizando virtudes, experiências e aptidões que justificassem ao menos uma chamada para entrevista. Depois, o roteiro incluía visita a empresas e potenciais empregadores para conhecer a trajetória do candidato à vaga.
Às vezes me sinto um ET neste mundo onde
exibir-se é obrigação e ser correto soa acessório
Hoje isto pertence a um passado que suscita boas risadas em rodas de boteco. É preciso investir no Linkedin, no Instagram e turbinar todas as redes sociais existentes. Também se impõem atualizações diárias em consonância com a modernidade.
Deve ser desconcertante criar filhos diante da tentativa de ensinar que é preciso desenvolver virtudes de um bom ser humano. E que “só dinheiro não traz felicidade”. As tentações da tecnologia vociferam em sentido contrário, estimulando a autovalorização, a ostentação, a imodéstia.
Crianças na mais tenra idade e adolescentes são dependentes da tecnologia, situação que também persegue os adultos já maduros. É torturante para nós “jovens há mais tempo” sermos dependentes de estagiários para a execução de tarefas que soam ridículas para esta nova geração. Mas esta é a realidade de nuances com suas mudanças intermináveis.
Crescer sem aparecer resume um mito que vai de encontro ao que se vê mundo afora. Isso cria uma espécie de “caça às bruxas”. Sou visto com desconfiança por vários amigos porque a única rede social que mantenho é o Twitter. “Tentei te marcar, mas não te encontrei. O que há contigo?”, é uma pergunta que já me acostumei a ouvir.
Às vezes me sinto um ET neste mundo onde exibir-se é uma obrigação, mas ser correto soa acessório.

