Quantas vezes você desligou, ou trocou de canal na hora do noticiário? Ou pior, assistiu impassível ao desfile de brutalidades gratuitas que se repetem em nosso país? É uma sequencia onde apenas se trocam as vítimas, porque o conceito do crime – desde o simples furto, até a corrupção – se torna mais evidente, assustador. Talvez até por isso mesmo, sejam estes tempos os melhores para um banho moralizador e nunca moralista, em uma sociedade que agoniza entre o frio do concreto e o sangue de tantas vítimas. Merecemos mais do que o simples existir, queremos uma vida com um sentido mais amplo do que esta modernidade de tantas tecnologias novas a brotar em uma sociedade sem ética.
Na semana passada eu vi, ninguém me contou, uma jovem grávida – classe média – pegar um pacote de fraldas descartáveis no supermercado e surrupiá-la para a sua bolsa. Esses pequenos furtos, essas distrações éticas, ao se tornarem rotina, cobrem tudo no frágil glacê da desculpa pobre: “Não vai fazer falta, afinal eles são poderosos”, e lá vai ela, com seus conceitos simplistas, levando na barriga um ser que deveria, em tese, educar e dar exemplo, para uma vida exemplar.
Quem sabe essa futura mamãe recrimine duramente os desvios em verbas públicas, reclame do celular que promete ser 5G e não completa a mais básica ligação, ou dos excessos nas redes sociais. “Em que mundo nascerá meu filho?” Esquece que o ladrão não se reconhece pelo tamanho do furto.
Segundo psicanalistas, fatores como a hereditariedade, experiências a partir da primeira infância e o ambiente familiar, determinam a formação de uma criança que, ao sair da fase inicial do egocentrismo, onde tudo gira em torno de seu lindo umbigo, precisa da presença dos pais para ensinar o básico, como não ser nada legal tomar para si, objetos alheios.
Como controlar esses impulsos, se a mão que embalou o berço é mesma que não tem escrúpulos para pequenos delitos? Se a criança, inicialmente nada sente ao se apropriar do que não lhe pertence, a reação dos pais é fundamental, para demonstrar o quanto pode magoar terceiros. Sem excessos, para não traumatizar, mas com exemplos tirados da experiência própria de vida.
Enfim, que uma família crie suas próprias fábulas, onde a dignidade não seja algo elástico e adaptável às ocasiões que fazem o larápio. E que um mínimo senso ético, não desapareça, vergonhosamente, em uma fralda de bebê furtada às pressas. Isso é muito feio. E nocivo.