O governo do Peru declarou como patrimônio cultural da nação os conhecimentos tradicionais e usos da ayahuasca praticados por comunidades nativas em sua floresta amazônica. Aqui no Brasil, a planta é conhecida como “Santo Daime” e entidades como o Alto Santo, Barquinha e União do Vegetal, também queriam o reconhecimento do governo para seu uso em rituais religiosos, como patrimônio imaterial da cultura brasileira.
Os peruanos justificam a iniciativa ao destacar que a capacidade psicotrópica da planta atua sobre o psiquismo, a atividade mental, o comportamento, a percepção, permitindo aos iniciados sensibilidade para adquirir e transmitir os mais profundos conhecimentos sobre os próprios fundamentos do Universo.
Quem me enviou essa notícia foi um antigo parceiro ao lembrar os tempos da cultura hippie nos anos quando muitos buscavam a essência divina entre alucinógenos e meditação transcendental. A turma da minha idade pelo menos deu uma olhada no livro “Uma Estranha Realidade”, do mexicano Carlos Castaneda.
Na época, esse amigo, achava tudo isso uma grande bobagem. No mínimo uma desculpa para drogar-se. Hoje, diante da violência, do pragmatismo exacerbado que destrói o núcleo familiar e torna a existência uma encruzilhada de compromissos materiais e questionáveis conquistas revolucionárias, passou a acredita que, ao buscar respostas interiores e dar um tempo para pensar a vida, faz tudo ter mais sentido.
Morremos assassinados por meninos sem fé, bandidos sem limite e policiais sem razão. Um mergulho na experiência ancestral de quem tão bem se relacionava com a natureza, não ajudaria um pouco? Respeito os que utilizam a ayahuasca como religião. Mas ainda acho que a prática da meditação, seja através de yoga ou outro método, ainda é um caminho menos poluído quimicamente, te obriga a um verdadeiro abrir de portas.
De qualquer forma, algo precisa ser feito imediatamente. É preocupação demais com dinheiro, redes sociais e bens que nos consomem. E o sexo? Queremos o melhor, o maior, o mais sarado, ou o mais excitante sempre e a qualquer hora. Trocamos a naturalidade das coisas, por fotos maquiadas no Only For Fans, ou espetáculos onde vale tudo e tudo passa a valer nada. Esse não é o único caminho do prazer e amor.
Ao lado dos cuidados com o corpo físico, é bom quando retiramos as “gorduras” que oprimem e nos levem a constatação de que somos o fast food do Universo. É tão curta nossa passagem que precisamos temperar a vida com as finas ervas da fé, da sabedoria que nada tem a ver com o conhecimento tecnológico mas que se somada a este, lhe dá mais sentido. E sentido é tudo o que buscamos.
Está certo o governo peruano ao reconhecer uma tradição popular. A valoriza de tal forma que a impede de acabar como produto nocivo que simplesmente aumentaria o vazio da alma humana. Assim como aconteceu com outra planta de origem indígena – a coca -, que ao ser processada pelo colonizador oportunista, transformou-se em uma das mais mortíferas desgraças da sociedade moderna.