Adoramos reclamar de autoridades públicas. “É tudo larápio, vigarista ou politiqueiro da pior espécie”, sentenciamos. Se a fila não anda, botamos a boca também. Afinal, é um direito nosso. As ruas esburacadas são temas recorrentes. Nas rádios, redes sociais, ou em imagens de tevê lá estão as crateras no asfalto, ou a falta de placas de sinalização. E xingamos porque pagamos impostos, sonegadores são os outros.
Eu, feliz morador de um sítio na região Metropolitana de Porto Alegre, hoje quero reclamar desses tais que adoram queixar-se dos governantes, gerentes, garçons e afins. Chove bastante desde o início da semana. E os motoristas da capital e entorno, aparentemente, não ligam para isso.
Apesar da recomendação dos técnicos em trânsito para reduzirmos em até 30% a velocidade, tem gente que promove ultrapassagens a mais de 100 quilômetros por hora! E o fazem nas mesmas estradas que reclamam estar em péssimo estado.
Agimos como cidadãos de quinta categoria. Motoristas medíocres, gente de má índole que adora culpar terceiros em problemas e dramas criados a partir da própria irresponsabilidade. A BR-290 parece uma imensa pista de corridas. E o que se vê? Autos de motorzinho mil, com pneus gastos, mal calibrados, suspensão meia-boca, alguns completamente lisos, a voar! Carros novos, turbinados, pior ainda.
Travestidos de pilotos suicidas, voam em suas naves de quatro rodas, na pista molhada. São maridos, esposas e filhos que, com certeza, não amam e respeitam seus familiares. Odeiam a humanidade! E os caminhões? Meu Deus! Ultrapassam com a mobilidade de baleias na cristaleira de suas avós e ainda grudam os para-choques duros – talvez a única coisa rija que possuem – nos veículos que tentam manter uma velocidade cautelosa.
Se a maioria age desta maneira, a minoria que se cuide. Eu continuarei atento, dando passagem aos velocistas da chuva e rezando para que não me envolvam em seus métodos doidos de dirigir. Aliás, também vi pedestre atravessando a rua sem olhar para os lados. Tem gente, nova e velha, andando na chuva sem proteção. Capa, guarda-chuvas, sei lá. Nunca vi tantos encharcados. Esqueceram o surto global da gripe A, em 2009? Ainda temos uma sequência enorme para o alfabeto vil das doenças contagiosas.
Sim, estou bem ranzinza, mas depois de tanto susto na estrada, em apenas uma tarde e sabendo que o inverno seguirá com seus dias úmidos e de pista escorregadia, temo por minha própria vida. Quero seguir na rica experiência da maturidade e suas dores intermináveis por mais algum tempo. Acreditem, eu como todos vocês, temos sempre muito o que melhorar. Estamos aqui para isso.
Então, façam dos seus carros apenas um meio de transporte que oferece conforto e bons itens de segurança. Os veículos modernos agregam pacotes bacanas para idas e vindas tranquilas. Em dias de intempérie nem todos somos pilotos perfeitos, prontos a enfrentar trechos alagados, visibilidade reduzida e aqueles buracos muitas vezes cavados pela força d’água. Vivamos mais e melhor! A pressa é a máscara do descuido.