No último fim de semana que estive em Arroio do Meio, aproveitei a ocasião para visitar o cemitério evangélico localizado no bairro Bela Vista, onde nasci. Fazia muito tempo que não revia meus pais e avós que estão ali sepultados. Quando faço isso não fico triste. Pelo contrário. Aproveito a oportunidade para “conversar” em voz alta com eles, lembrar os bons momentos, os ensinamentos legados, as recordações que alegram meu coração e embalam as minhas lembranças. É uma espécie de combustível para seguir adiante.
Como se simulasse um bate-papo, muitas vezes faço uma comparação com a realidade em que eles viveram com o mundo que temos a oferecer para nossos herdeiros na atualidade. São épocas completamente diferentes. Com diferentes hábitos, outros valores, costumes e maneiras de viver que nada têm a ver com o passado do meu nascimento naquela localidade.
Apesar do cemitério aparentar um aspecto de abandono, gosto de ficar sentado por alguns minutos para recordar episódios que marcaram a minha infância e a adolescência. Não é possível comparar épocas tão diferentes, mas alguns princípios se mantêm inalteráveis porque são fundamentais para forjar seres humanos educados, gentis, solidários e colaborativos.
A saudade será
eterna, mas a gratidão
pelo legado será,
sempre, muito maior.
Meus pais e avós viveram tempos de dureza, não apenas pela inexistência das facilidades do mundo moderno, baseados na tecnologia e no pouco esforço para executar inúmeras tarefas. Eram épocas de extremas dificuldades materiais superadas, em todas as ocasiões, pelo trabalho e pela vida comunitária.
Vizinhos se cotizavam para ajudar-se mutuamente. Este era o espírito para comemorar um aniversário. E também para carnear um boi ou porco e até para ajudar em caso de doença ou dificuldade grave. Tudo era compartilhado sem medir com quanto cada um contribuiu. A prioridade era superar o problema do momento. Para isso se buscavam soluções entre as pessoas próximas. Afinal, todos estavam juntos, sempre. Fosse para compartilhar carências, dividir a abundância ou confraternizar conquistas.
Depois desses passeios pelo passado, ao voltar para casa, sintome privilegiado por ter convivido com pessoas que, em sua simplicidade, ensinaram que o maior bem são os amigos e os familiares. Afinal, são eles que nos apoiam, estimulam, criticam quando necessário e consolam na hora do infortúnio.
A saudade será eterna, mas a gratidão pelo legado será, sempre, muito maior.