No mês passado chegou às livrarias obra que conta a história da professora Malvina Hailliot Tavares. O livro tem como título só uma palavra: “Malvina”. Nas suas 259 páginas, focaliza a trajetória da professora que atuou na escola pública de São Gabriel de Lajeado – hoje sede do município de Cruzeiro do Sul – entre os anos de 1899 e 1933.
Quem escreveu o livro foi Laura Peixoto, uma escritora já tarimbada, autora de vários títulos. O presente trabalho baseia-se em pesquisa muito cuidadosa com o objetivo de reconstituir a época e o ambiente em que Malvina trabalhou. Esse pano de fundo torna possível delinear o papel da professora na comunidade. Como os documentos diretos são escassos, Laura Peixoto faz a reconstituição de época a partir de outras fontes e por essa via compõe um extenso e pitoresco panorama dos primeiros anos do século XX na colônia local.
Para os arroio-meenses vale lembrar que o filho de Malvina, Aristides Tavares, foi o segundo prefeito do município, tendo estado à frente da administração de 1938 a 1941.
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Se consideramos a realidade da época, é fácil perceber que Malvina tinha características singulares. Não foi por pouco que se tornou figura especial. Ela descendia de imigrantes franceses. Seu pai, um profissional de renome, construiu, por exemplo, a igreja de Encruzilhada do Sul. Malvina e a irmã foram encaminhadas para estudar na Escola Normal de Porto Alegre. O resultado é que Malvina chegou a São Gabriel de Lajeado com formação muito melhor do que seus colegas costumavam ter. E veio com ideias pedagógicas que causaram estranhamento. Ela, por exemplo, não adotava a prática dos castigos físicos. Como se sabe, bater nos alunos, deixá-los ajoelhados sobre grãos de milho, etc. eram considerados métodos necessários ao ensino. Malvina não precisava desses recursos para educar as crianças. Malvina também não acompanhava a religiosidade da época. Ela dirigia uma escola declaradamente laica.
Outro ponto fora da curva é que Malvina queria meninos e meninas na sala de aula, sem distinção. Discordava do costume de reter as meninas em casa, com a suposição de que uma futura dona de casa não precisava saber muita coisa.
Não é sem dificuldade que Malvina vai equilibrando a vida no ambiente acanhado. Por um lado, lidera a comunidade escolar com ideias próprias; por outro, segue padrões domésticos comuns. Casa-se aos 23 anos com o imigrante português José Joaquim Tavares e tem sete filhos. Além de garantir a maior parte do sustento da família, Malvina ocupa-se da casa, cuida das crianças, tem horta, tem galinheiro e vive de forma parecida com as demais mulheres de sua geração.
Recomendo fortemente a leitura de “Malvina”. Acho que nunca se fez uma apresentação tão completa e verossímil dos costumes do Vale do Taquari. Vale muito pensar sobre o papel desta e de tantas Malvinas…
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CONVITE: reitero o convite para estarem comigo na próxima quarta, dia 23, no Sesc Lajeado, no lançamento do meu livro infantil: “O dicionário da Lili”. Vou ficar bem contente com cada um que puder comparecer.