Já faz tempo que cultivo o hábito de reencontrar velhos
afetos. Faço isso até mesmo ao receber a notícia do falecimento
de algum amigo ou conhecido de longa data. Várias
vezes saí de Porto Alegre, onde resido e trabalho, por volta
do meio-dia, para retornar no fi nal da tarde, em pleno dia de
semana. Tudo para me despedir de gente que teve um signifi –
cado especial na minha vida.
Também procuro participar de eventos de reencontro, da
época dos bancos escolares, das “peladas” de futebol na várzea
e do “campeonato da praça” ou ainda dos Canarinhos do
Colégio São Miguel. Em algumas ocasiões tenho difi culdade
para reconhecer velhos amigos. Isso aconteceu recentemente
no churrasco do Old Horse, a “velha guarda” do The Horse.
Naquela fria tarde de sábado brinquei com o incidente, sugerindo
que na próxima edição todos usassem crachá. O documento
deveria conter uma foto “dos bons tempos” com o
respectivo nome e idade do portador.
Longe de ser saudosista – e muito menos pessimista em
relação à atualidade – gosto de traçar comparativos. Neste raciocínio
busco lembrar-me das transformações que aconteceram
ao longo dos anos, até chegarmos à situação.
É grande o sofrimento de quem não
tem um ombro amigo como consolo
Isso permite evitar simplifi cações do tipo “no meu tempo tudo
era muito melhor”. Concordo que muitas coisas eram diferentes.
Como as relações pessoais através de conversas “ao vivo
e a cores”, olho no olho, ao invés de mensagens de texto sem
tempero. Ou com excesso de tempero que leva ao festival do
ódio das redes sociais.
Fico feliz ao constatar que muita gente curte a velhice com
parcimônia e equilíbrio. Seria ingênuo imaginar que não existem
aqueles que só enxergam defeitos. Pessimistas sempre
existiram e existirão. A existência deles é positiva para mostrar
que é preciso ser tolerante com a vida, dar os devidos descontos
e lembrar que muitos passam por terríveis difi culdades.
Nesta altura da vida é um duro castigo enfrentar restrições
de locomoção, confl itos familiares, algo muito comum. Machuca
encarar problemas fi nanceiros e buscas frustradas por
amigos “dos bons tempos” para compartilhar reminiscências.
A solidão abre caminho para a depressão e situações piores.
Isso é inclemente para pessoas fragilizadas que não dispõem
de um ombro parceiro para consolar.
Envelhecer de maneira saudável é um desafi o que se esgueira
entre as frestas de cada dia que podem signifi car sofrimentos.
Ou chances de compartilhamento de recordações
e chance de novas experiências. Seja qual for a situação, os
amigos estarão sempre juntos.