Colada na cidade de Anta Gorda, a pacata Vila Borghetto abriga histórias que se perpetuam desde a chegada dos descendentes de imigrantes italianos por volta de 1880. A localidade foi sede do primeiro frigorífico da região, já desativado, o Fornari e Bozetto, que além de fornecer banha para todo o Brasil, fabricava os produtos Casta, também famosos na região. Mas é num casarão de quadro andares, edificado com madeira de pinheiro e um extenso porão, na Bodega Goldoni, que boa parte da história permanece viva. Nela, o morador Leucir Goldoni (71) mantêm a tradição comercial da família iniciada há 137 anos por Alverle Goldoni, depois seguida pelo pai, David Goldoni. Oriundos da localidade de Alcântara em Bento Gonçalves, os Goldoni chegaram à localidade para ajudar a construir a história do município. O lugar era trajeto para se percorrer até Muçum, passando por Linha Quarta a Barra do Zeferino, para o transporte de mercadorias no lombo de mulas. Hoje, atrás de um balcão de madeira, Leucir recorda de seu começo no negócio. Atende desde os 17 anos a pedido do pai. Muito orgulhoso ao lado da esposa Ivanete e dos filhos Cristiane, Eloisa, Raquel e Luiz, Leucir passa a maior parte do dia atrás do balcão na Casa Comercial, onde se vende de tudo um pouco. “Desde tecidos em metros até produtos de primeira necessidade, além de queijos de primeira qualidade, vinho e cachaça”, conta. Com um largo sorriso e uma enorme simpatia “Seu Goldoni” acolhe a todos que chegam por lá. “Vem gente de tudo o que é lado, de perto, de longe como São Paulo, Mato Grosso, Porto Alegre, Lajeado, até estudantes vem aqui pesquisar”, comenta. Entre as curiosidades de seu estabelecimento estão os códigos de números e letras fixados ao lado do preço de cada produto. “Aprendi com meu pai e só eu sei. É para eu saber o preço de custo de cada mercadoria. Aqui é terra de gringo e se alguém me pede um desconto, sei até onde posso chegar”, conta.
Mas o lugar é também ponto de encontro. Sentados ao redor de uma mesa de madeira que tem quase a idade da bodega, descendentes de pioneiros como os Malaggi, Gasparini, Bozetto, Felini, Baldo, Cavagnoli, Fornari, Molinaro, Dalla Pícola, Casagrande e Justi colocam as conversas em dia, principalmente aos finais de tarde. “Falamos de tudo um pouco, até alguns segredos que são revelados após alguns tragos de canha, mas que fica tudo entre amigos. É que nem confessar para o Padre, ninguém saí falando”, relata. No outro lado da rua está a igreja católica. “Não abrimos aos domingos nem na hora da Missa, mas se alguém bater na porta a gente não deixa ninguém na mão”, diverte-se.