O preço da carne bovina caiu cerca de 10% no decorrer do ano de 2023. Os motivos são a diminuição da exportação, a queda dos preços das commodities que compõem a ração de gado e o ciclo da pecuária.
A queda ajudou a aliviar a pressão inflacionária, mas o consumo ainda está menor, se comparada aos anos passados. No varejo é a primeira vez depois da pandemia que cortes de carne de 1ª estão com promoções abaixo de R$ 30 o kg. De acordo com o sócio proprietário do Marel, Ismael Jung, até no início do ano preços acima de R$ 40 e perto dos R$ 50 ainda eram frequentes.
A Gerente da Divisão de Varejo da Dália Alimentos, Vera Lúcia Beneduzi observa que a desaceleração da economia chinesa, resulta na diminuição da exportação e consequentemente no aumento da oferta no mercado interno, gerando essa diminuição dos preços. Além disso, é necessário considerar a redução dos preços dos commodities agrícolas como milho e farelo de soja, utilizados para produção de ração animal, a redução do consumo de carne em relação a anos anteriores, bem como maior investimento de agronegócios voltados a produção de carne bovina, gerando maior oferta no mercado interno.
Dentre outros produtos com queda expressiva está o leite e creme de leite, em consequência da alta importação de países próximos como Uruguai e da Argentina. O Brasil importou quase 70 mil toneladas de leite, creme de leite e laticínios nos primeiros quatro meses do ano, resultando em um volume que é mais do que o triplo das importações do intervalo entre janeiro e abril do ano passado. As importações de produtos do segmento estão crescendo devido à diferença de preços entre a matéria-prima local e a fornecida por Argentina e Uruguai.
Já os itens de frutas, legumes e verduras vem se mantendo em certa estabilidade variando alguns produtos de acordo com a região do pais que são cultivados. Itens como por exemplo tomate e cebola, em grande parte oriundos da região central do país, sofrem maiores oscilações. Já itens mais comuns no RS como verduras e algumas frutas não sofreram maiores impactos.
O CICLO DA PECUÁRIA – O ciclo da pecuária é um fenômeno caracterizado pela flutuação dos preços do gado e da carne, com fases de baixa e de alta que se repetem de tempo em tempo. Essa flutuação é causada pela natureza da pecuária de corte, que é uma atividade de ciclo longo em que a resposta da produção a estímulos externos, como os preços recebidos, acontece de forma muito lenta.
Quando cresce a oferta de bois gordos, os preços caem, e as demais categorias como os bois magros, bezerros e matrizes também se desvalorizam. Pressionados por dificuldades financeiras, os criadores vendem mais vacas para o abate. O abate de fêmeas aumenta a oferta de carne e os preços caem ainda mais.
Com a redução do número de matrizes, fica comprometida a produção de bezerros, a reposição dos animais do rebanho de cria e a oferta futura de bois para o abate. Depois de alguns anos, a escassez de bois para abate e de novilhas para reposição das vacas descartadas força a alta dos preços, recomeçando o ciclo.
De acordo com os pesquisadores do Centro de Inteligência da Carne Bovina (Cicarne) da Embrapa, um ciclo completo, dura em torno de 8 anos. Esse período, porém, está diminuindo no Brasil porque, com mais tecnologias disponíveis, os animais atingem o peso de abate com menor idade. Atualmente, o ciclo pode durar em torno de 5 a 6 anos.