Trocar uma ideia. Atividade presente nos mais diversos ambientes do nosso cotidiano, embora nem sempre tenhamos a noção disso. Bater papo, conversar, jogar conversa fora, papear, fazer comentários ou fofoca. Existem inúmeros sinônimos para a prática milenar de interlocução entre duas ou mais pessoas.
Apesar da naturalidade do gesto é cada vez mais difícil conseguir “trocar uma ideia”. O que se vê – e ouve –são trocas de ofensas através de tentativas de desqualificar o interlocutor, pessoalizar ataques ou apenas mudar de assuntos. Jamais de ideia.
A falta de civilidade que assola o Brasil é muito mais que falta de educação na tentativa de conversar com aqueles que pensam diferente. É a gênese de um movimento gigantesco que agasta o país, acarretando divisões que transcendem o debate político/ideológico.
Na família, no condomínio, na mesa de bar, no trabalho, no elevador ou mesmo na fila do supermercado grassa a incapacidade de apresentar argumentos no lugar de ofensas. É raro encontrar amigos que apregoam virtudes de partidos diferentes e que, mesmo assim, mantêm a parceria de uma vida toda.
Sem racionalidade o mundo se transformará numa
arena onde só haverá espaço para o ódio e a cizânia.
Viceja um sentimento de que todo debate só se encerra quando há um vencedor. É um equívoco gigantesco. Defender pontos de vista diversos gera enriquecimento intelectual. Mas não passa pela cabeça das pessoas que usam o todo meio de comunicação para atacar. Toda ferramenta tecnológica é instrumento para destruir, ofender, enxovalhar, ridicularizar o oponente.
Na terça-feira deparei com o artigo do publicitário Fábio Bernardi publicado no jornal Zero Hora. “Trocar ideia é ter ideia para trocar” era o título do texto. A certa altura ele escreve: “O pensador francês Émile-Auguste Chartier já dizia que nada é mais perigoso do que uma ideia quando se tem apenas uma. Parece ser o caso do brasileiro em geral, que confunde refletir com negar o que se pensa”. Bingo!
Somos por definição seres racionais que deveríamos respeitar a razão. “Mas gostamos mesmo é de nossas paixões”, escreveu. As paixões são importantes, mas não podem pautar nosso comportamento. Sem racionalidade o mundo se transformará numa monumental arena onde só haverá espaço para o ódio e a cizânia.