Era uma segunda-feira normal. Ou melhor, dia de voltar à labuta, depois de alguns dias de descanso. Aquele fora um fim de semana também normal. Então, levantei e o que percebi foi chuva e previsão de muito mais. Jamais uma ideia de catástrofe natural.
A segunda-feira se vai. Uma noite diferente para muitos, pois o alerta fora dado: prenúncio certo de enchente, mas nunca com tamanha força e velocidade pelo relato dos atingidos.
Terça-feira e todos já sabem o que aconteceu e não é preciso relatar.
Quarta-feira e o que se segue é um cenário desolador, como uma guerra. Não há o que comentar; mesmo os que não foram atingidos, sentiram-se abalados.
Durante um dos tantos relatos que escutávamos e víamos por redes sociais, grupos de wattsapp, telejornais; uma delas me chamou atenção. A mulher que perdera tudo e caminhava por entre o lodo, escombros, com um olhar triste; parou no meio de sua casa que não existia mais e abaixou-se para pegar uma boneca. Isso mesmo, uma boneca. Era a boneca de alguém que, com a enxurrada, veio parar no seu antigo lar.
Agachou-se com um olhar de esperança e pegou a boneca. Nesse momento, eu e um monte de pessoas pensamos a mesma coisa: há uma luz no fim do túnel. Aquela boneca vai ser limpa e entregue a uma criança para brincar, dali a um tempo. E, muito mais que brincar, essa criança vai sonhar.
Sempre há luz no fundo do túnel para recomeçar e reconstruir-se. Depois da tempestade vem a bonança. Claro que é difícil, mas se sonharmos com dias melhores e com pureza e bondade no coração ajudamos os outros tudo fica mais fácil.
A boneca frágil passou pela força da água, foi atirada para lá e para cá, pisoteada, amassada, chutada e, mesmo assim, foi achada e vai ser reconstruída. Assim, o ser humano que cada vez mais precisa ter resiliência e diante de fatos ruins e entender que essa fase vai passar e nós estaremos muito mais fortes e maduros para continuar a viver. A dor ensina muito. Sempre depreendemos coisas boas desses fatos, como por exemplo, com quem contar, em acreditar na força do amor, da força do trabalho em equipe, da compaixão das pessoas e da força do trabalho, da importância do voluntariado.
Encontrar bonecas em meio ao caos; uma bela metáfora a refletir. Encontrar ‘bonecas’ em nossa vida é saber que a esperança existe e é a última que morre. As coisas não acabam, ainda mais dentro da gente. Força de viver; isso faz a diferença e considerando a vida como uma dádiva de Deus.
Nossa boneca interior é forte! Somos de um estado que têm a força como característica principal. Mas também a delicadeza como um contraste perfeito. Mãos delicadas e fortes fazem diferença para a construção de um novo lar, uma cidade e um estado.