Iniciei uma viagem, em 4 de setembro último, exatamente no dia em que as águas do Taquari começaram a sair do leito e protagonizaram o maior desastre natural já ocorrido na região. Retorno agora, quando as coisas estão começando a voltar à normalidade. Normalidade, em termos. Vidas foram perdidas. Há danos e prejuízos impossíveis de recuperar.
De todo modo, a maior parte da lama foi retirada das casas, montanhas de entulho já desapareceram das ruas, os desabrigados que têm para onde voltar estão voltando. Mais um pouco e a vida parecerá estar rodando nos eixos novamente.
Estar longe do desastre e não enxergar a desolação tem vantagens. Como diz o povo, “o que os olhos não veem o coração não sente”. A distância nos deixa livres do impacto que um sofrimento deste tamanho produz. Experimentar ao vivo a tragédia é muito pior do que pensar nela, estando longe. Mas é preciso dizer que estar longe da cena deixa um sentimento muito desconfortável. É a sensação é de ter corrido da briga. Parece que a gente abandonou o barco, sem esboçar um gesto de apoio, nem que fosse ajudar a varrer ou alcançar um sanduíche.
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Acredito que o conhecimento transforma o mundo, por isso me ponho a pesquisar sobre desastres naturais. Verifico que há institutos de pesquisa dedicados ao assunto pelo mundo a fora. Já existe muito saber consolidado. E não admira que seja assim. Enchentes, vendavais, etc. sempre aconteceram e, ao que se diz, tendem a se tornar cada vez mais frequentes. Some-se a isso a crescente urbanização do planeta, que faz com que um número cada vez maior de pessoas seja atingido.
Documentos da ONU estão disponíveis com a indicação de medidas estruturais e de comportamento que podem ajudar muito na prevenção e na diminuição dos danos. Há exemplos de intervenções que demandam grandes investimentos, mas há também medidas que estão ao alcance de todos. Por exemplo, a diminuição de lixo e o aumento das superfícies porosas, as quais permitem a infiltração da água da chuva, em vez de servirem de calha para levá-la aos córregos. Também é possível ir mudando a nossa cabeça para entender que Meio Ambiente não é um departamento isolado das prefeituras…
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Não jogo no time que gosta de confessar os pecados dos outros.
Sim, o setor público poderia estar melhor estruturado em termos de prevenção de enchentes, de emissão de alertas e de socorro imediato. É preciso colocar estas demandas em pauta e fiscalizar a sua execução. Mas o fato é que todos nos esquecemos disso, nos períodos de calmaria. Todos somos displicentes e omissos.
Prefiro atuar na linha do quem-sou-eu-para-acusar, se, pessoalmente, não faço nada. Fico pensando na multiplicação imoderada das sacolas plásticas, as mesmas que vão entupir bueiros, etc. Se cada morador de um município de vinte mil habitantes usar um saco plástico a menos por dia, diminuirão sete milhões e trezentos mil os plásticos em circulação por ano.
Esta é uma proposição singela, eu sei. Mas utilizar sacolas retornáveis a sério poderá nos tornar mais firmes na hora de exigir as medidas necessárias e mais determinados na hora de cooperar com elas.