Na quarta-feira (13) desta semana foram lembrados os 91 anos do amanhecer de um violento combate entre apoiadores gaúchos da Revolução Constitucionalista de 1932 e tropas armadas do governo estadual de Flores da Cunha, na localidade de Barra do Dudulha, hoje nos limites entre Pouso Novo, Progresso e Fontoura Xavier, mas na época limites entre Lajeado e Soledade. O Combate do Fão iniciou alguns dias antes, no início de setembro, quando um grupo de constitucionalistas de Soledade, comandados pelo general Cândido Carneiro Júnior (Candoca), partia em direção a São Paulo para auxiliar os paulistas. O objetivo era depor o presidente Getúlio Vargas. Do outro lado, uma tropa do governo, com cerca de 200 soldados, era acionada para combater os rebeldes. Na localidade de Campo Branco, situada hoje no município de Progresso, forças lajeadenses se concentraram para apoiar os revolucionários. O Combate do Fão ainda hoje é lembrado pelas baixas e também pelo envolvimento de moradores de Lajeado e Soledade.
Conforme relato no diário do combatente Jorge de Paula, às 20h do dia 12, o acampamento dos revolucionários na Barra do Dudulha foi atacado por forças da Brigada Militar, com tiros de fuzil e rajadas de metralhadora, dando início ao combate. No amanhecer do dia seguinte, o confronto foi decisivo. Os revolucionários tiveram o auxílio da neblina cerrada que se levantara do Rio Fão e encobria suas margens, não permitindo que os soldados governistas os localizassem. Mas eles lutavam em desvantagem no número de combatentes, na qualidade do armamento e na quantidade de munição.
Às 10h do dia seguinte, o nevoeiro se dissipou e o campo ficou visível. O ataque governista foi intenso. Os revolucionários, entrincheirados atrás de uma cerca de pedra e protegidos pelas árvores, ouviam as balas ricochetearem nas pedras e descascarem as árvores. Passava o meio-dia, os revolucionários foram recuando e se escondendo na mata para se reencontrar mais tarde na localidade conhecida como Gramado. O general Candoca, com sua montaria, utilizou uma pequena balsa para passar o rio. Acabaram se dispersando e tomaram diversos rumos. No dia 14, a Brigada Militar abandonou o local.
Partindo de Bela Vista do Fão, o frei franciscano Tiago Scheffers, junto com alguns moradores, foi ao local e encontrou os corpos de cinco revolucionários que foram ali sepultados. Também já tinham sido enterrados os tenentes João Cândido Alves Filho e Orestes Pereira Marçal, o cabo Rivadávia Cardoso dos Santos e os soldados Frederico Brito da Silva e Nestor Osvaldo dos Santos.
Alguns dos revolucionários foram presos, outros receberam perdão. O número preciso de mortos, até hoje, é uma incógnita. Há quem fale em seis, outros em mais de cem. Conta-se, também, que uma caixa de ferro com armas estaria no fundo do Arroio Dudulha. Histórias que atravessam gerações e que se perpetuam pelo tempo.
A doutora em ciências, professora e historiadora Janaíne Trombini, natural da localidade, pesquisou e editou uma obra que retrata o Combate do Fão. “É uma história sem fim, temos ainda muito o que pesquisar e divulgar. Mas também temos que lutar pela conservação do que ainda existe e um museu na localidade onde ocorreu o combate é algo que deve ser pensado urgentemente. Ainda temos muito material da época e que devem ser preservados”, destaca.