A força das águas do rio Taquari mudou a percepção de vida da jovem Maria Luísa da Silva de 18 anos para sempre. Reside no bairro Medianeira em Arroio do Meio e trabalha no setor de recepção e emergência do Hospital São José. Ela não foi atingida pela enchente, mas as consequências, desolação, tristeza, medo e perdas pode presenciar de perto no exercício da profissão e como voluntária no Centro de Coleta e Distribuição do Salão Paroquial.
A manhã do dia 5 de setembro, data da catástrofe registrada no município e no Vale do Taquari, seria um dia normal de trabalho para Maria. Ao chegar na casa de saúde por volta de 6h45min, pensou que não havia o movimento de costume, pois as pessoas estariam organizando a limpeza das casas. No entanto, Maria tomou conhecimento da gravidade do fato quando a comunidade de Arroio do Meio, realmente, começou a buscar ajuda no hospital às 7h.
“Começaram a chegar muitas pessoas, alguns hipotérmicos, outras fracas e pedindo socorro. Eu só escutava as pessoas dizendo que perderam tudo, que não tinham mais casa e família”, conta Maria. Entre tantos casos, dois marcaram e levará para sempre na memória. “Um adolescente de 13 anos veio nadando e estava sem pai e sem mãe. Foi algo que me tocou, porque ele disse que o hospital era o único lugar que sentiu que estaria seguro. Na hora meu mundo caiu, pois percebi que era só a gente que ele tinha. Graças a Deus que, no meio da manhã, a mãe conseguiu encontrá-lo. Tem o outro caso de um pai que veio com a mão cortada dizendo que precisava achar o filho. Fomos procurar no andar de cima de acordo com a lista de nomes e houve o reencontro. Foi um momento muito emocionante, porque o pai achou que o filho tivesse morrido. Eles se abraçaram e foi um choque muito grande de tudo que estava acontecendo. Impossível não se emocionar e não chorar com tudo que vivenciamos”, diz a jovem.
No turno oposto aos trabalhos no hospital, ela começou a auxiliar no Centro do Salão Paroquial e tudo isso trouxe muitos ensinamentos e reflexões profundas para a sua juventude e vida. “Eu agradecia por estar bem e que poderia ajudar naquele momento. Sempre devemos nos colocar no lugar do próximo. Temos que acolher as pessoas para que sintam amadas e respeitadas. A gente vê que tudo é passageiro. As coisas passam e acontecem muito rápido. Em um piscar de olhos você tem tudo e depois nada. O que vale são as pessoas que temos, as relações, quem perdemos e não recuperamos. Precisamos pensar em nosso legado e propósito de vida. A gente tem que ter em mente qual impressão deixamos aqui para as pessoas quando partimos. Isso tudo que presenciei vou levar para o resto da vida e para filhos e netos. Nunca vi algo tão grande também relacionado com o voluntariado.”