Em viagem profissional realizada na semana passada percorri os municípios de Arroio do Meio, Encantado, Muçum e Roca Sales. Tudo o que precisava ser dito sobre a tragédia ocorrida no início do mês já foi citado, escrito, exibido, analisado.
A nossa gente amarga prejuízos jamais registrados ao longo da história. O patrimônio de uma vida toda foi literalmente por água abaixo. Sonhos, recordações e residências que outrora acolheram festas e encontros jazem apenas na memória dos antigos moradores.
As perdas foram imensuráveis. Os municípios vizinhos tiveram uma quantidade inaceitável de mortes, resultado da força descomunal do nosso rio Taquari. Em Roca Sales, no dia 14 (quinta-feira), conversei com o ex-prefeito Moacir Lanzini, profundo conhecedor da realidade local.
Diante de uma praça totalmente destruída, localizada às margens do rio, indaguei sobre o número de mortes no município. Até aquela data, 11 roca-salenses haviam perecido em decorrência da enchente.
– Se não fosse o pessoal das embarcações, usando jet skis, lanchas e outros barcos, o número de mortes seria muito maior. Graças a eles e aos helicópteros que surgiram de vários lugares quando os moradores começaram a se abrigar nos telhados não tivemos uma tragédia ainda maior – afirmou conformado.
É hora de reagir, mesmo diante de
um quadro de tamanha desolação
Em Arroio do Meio, o socorro, acolhida e outras providências ficaram seriamente prejudicados pelo grande número de atingidos pelas águas. Para agravar a situação, vários servidores da prefeitura foram atingidos, reduzindo o contingente necessário para atender a população.
Seria insensível afirmar que, como em tudo na vida, este fenômeno climático sem precedentes em nossa história teve um “lado bom”. Talvez se possa dizer que a onda de solidariedade foi surpreendente. Nem os mais oti-mistas poderiam imaginar o vulto da mobilização que tomou conta do país. Tivemos voluntários chegando à região em números colossais e oriundos dos mais diversos pontos do RS e de fora do Estado. Nos finais de semana registrou-se a presença de aproximadamente 5 mil voluntários.
Os 36 municípios do Vale do Taquari que ostentavam o título de “região sem crise” – mesmo após a pandemia – agora buscam apoio, solidariedade e inspiração para recomeçar. O Estado precisa apoiar moradores e empreendedores para evitar o agravamento do caos social resultante do fechamento de empregos. A venda Corsan turbinou os cofres públicos. O momento é de calamidade. É preciso apoio concreto.
O momento é de dor, de contabilizar perdas, sepultar as vítimas, ajudar, consolar e incentivar vizinhos, amigos, familiares. Diz o ditado que “Deus dá o frio conforme o cobertor” ou que “só dá o fardo conforme nossas forças”. Então, é hora de reagir. Mesmo diante de um quadro de tamanha desolação.