O pior aconteceu. Resta limpar, ajudar, reconstruir, consolar, acomodar, improvisar. Mas é preciso, depois de mitigar a dor, agir de maneira racional para tirar lições de aplicação prática. Isso reduzirá futuros prejuízos ou, em alguns casos, poderá evitar tragédias.
Um ex-prefeito, aqui do Vale do Taquari, sugere que prefeitos, vereadores e outros gestores públicos municipais trabalhem em uma proposta inte-ressante. O objetivo é assegurar, dentro do Plano Diretor de cada município, uma rubrica específica para a reconstrução dos imóveis destruídos e de novos imóveis. A ação atenderia a todos os preceitos técnicos, como altura do terreno e localização, entre outros detalhes importantes.
O rio Taquari é personagem da vida de todos nós que vivemos ou nascemos na região. Gente da minha geração, desde a infância, aprende a admirar e respeitar as águas que descem da Serra. Pescarias de jundiás, carás, lambaris e traíras, além de banhos no final das tardes ou piqueniques são reminiscências que jamais se apagarão da memória.
O Vale do Taquari foi forjado ao longo do curso do rio. Passamos a infância ouvindo histórias dos avós sobre os barcos que traziam mercadorias e movimentavam a economia regional. Algo semelhante aos trens, que aos poucos retornam, mas em forma de incremento do turismo.
É hora de gestores públicos honrarem cargos
e mandatos para trabalhar na prevenção
Eu estava distante do Estado no final de semana, em viagem agendada há meses. Cada imagem ou depoimento recebido pelo celular me transportava para as ruas de Arroio do Meio. Imaginei a dor, a agonia, o medo e o desespero de milhares de amigos, conhecidos, ex-colegas e vizinhos que, em poucas horas, perderam todo patrimônio construído numa vida inteira.
Não é hora de procurar culpados. Parece fácil pedir racionalidade em momento de tamanha dor. Mas é preciso juntar forças para analisar as causas e agir concretamente na prevenção de novos fenômenos. Especialistas preveem que teremos novos episódios, tão ou mais rigorosos como esta enchente.
Nasci e cresci ouvindo histórias inacreditáveis sobre “a barbaridade que foi a enchente de (19) 41”. Hoje vejo que tudo aquilo que meus pais e avós relatavam era possível de acontecer. A cheia deste 2023 se mostrou ironicamente “democrática”. Atingiu zonas ribeirinhas e regiões de classe média/alta.
O show de solidariedade deve ser louvado, mas precisamos fazer de tudo para que não seja mais necessário. É hora de gestores públicos honrarem cargos e mandatos para trabalhar na prevenção. Isso é urgente!