Os impactos da inundação causada pelo ciclone extratropical que assolou municípios do Vale do Taquari nos primeiros dias de setembro ainda estão sendo apurados e, dificilmente, serão mensurados na sua totalidade. Isto porque todos os setores da sociedade foram atingidos de alguma forma. Além das centenas de moradias afetadas, o rio Taquari deixou um rastro de destruição em estabelecimentos comerciais, industriais e de serviços e danos inimagináveis no setor primário.
Em Arroio do Meio, um levantamento apresentado na tarde de terça-feira, em reunião da Comissão Mista da Agricultura, que apura os estragos, aponta que as perdas no setor ultrapassam os R$ 10 milhões, com pelo menos 120 produtores atingidos. O valor leva em consideração as plantações perdidas, como trigo, milho para grão e para silagem, a morte de suínos e bovinos, instalações inundadas, silagem que foi levada pela água, entre tantos outros danos.
O valor apurado, conforme explica o presidente da Câmara de Vereadores, Paulo Heck, pode ser ainda superior, já que neste levantamento não se dimensiona os reflexos futuros, como é o caso das famílias cujo estoque de silagem foi rio abaixo e o milho plantado foi perdido. É um efeito em cascata, pois a oferta de silagem será menor até para quem tiver a necessidade de comprar. Heck, que já foi secretário de Agricultura e de Obras, teme que a produção leiteira possa ser reduzida, o que impactaria na economia, como um todo. “Produtores de Arroio do Meio vendiam silagem para outros municípios. Agora não vamos ter nem para atender a nossa necessidade. É um momento muito desafiador para o nosso setor primário. Por isso precisamos buscar auxílio para os produtores, porque muitos não terão mais condições de produzir”.
A dificuldade apontada por ele está diretamente ligada ao fato de que a agricultura já vivia um momento delicado. As secas, os reflexos da pandemia, quando os insumos tiveram alta nos preços, e crise do leite e da proteína animal, já tornavam o quadro delicado, fazendo com que muitos dos produtores agora afetados pela enchente já estivessem com sua margem muito reduzida e até com aperto para quitar os financiamentos existentes. Por isso, a comissão, que também é formada por agricultores e representantes da secretaria de Agricultura, Conar, Emater/RS-Ascar, STR, Acisam, CDL, da Câmara de Vereadores, vai pressionar para que haja anistia das dívidas de financiamentos. A estimativa é que o valor a ser anistiado chegue a R$ 10 milhões.
O entendimento da comissão é de que a partir desta anistia os produtores teriam condições de contratar novos financiamentos, para voltar a produzir. Na situação atual muitos não terão como fazer novas contatações pois estão sem a produção para honrar as parcelas dos contratos existente e, ao mesmo tempo, sem ter como dar garantias para tomar um novo crédito.
Com o levantamento dos prejuízos em mãos também serão pleiteados recursos subsidiados para a retomada destas propriedades. “É o que se precisa hoje, a anistia dos financiamentos e subsídios para produzir”, reforça Paulo.
Máquinas
Na reunião de terça-feira, realizada na Acisam, também foi discutida a forma de atuação das máquinas que vão auxiliar na limpeza das propriedades. Há relatos de áreas com uma grossa camada de lama sobre a área de plantio, além de árvores e entulhos deixados pela água, além de acessos que precisam ser refeitos. O Estado já direcionou um R$ 1 milhão em horas/máquina e já há várias equipes terceirizadas no município atuando neste trabalho. A sugestão é para que sejam montadas frentes por localidades, com equipes de máquinas e caminhões, a fim de otimizar o trabalho, evitando o deslocamento desnecessário.
Comissão
Integram a comissão o presidente da Câmara de Vereadores Paulo Heck, os vereadores Roque Haas e Rodrigo Kreutz, o presidente do Conar Diego Lansing, o secretário de Agricultura Élcio Roni Lutz e o engenheiro agrícola André Rosenbach, os agricultores Fernando Rosenbach, Rodrigo Schmitz, Mateus Kortz e Robson Steffens, além da Emater, CDL, Acisam e STR.