Nos dias 4 e 5 de setembro, a população de vários municípios do Vale do Taquari e Serra Gaúcha testemunharam a maior enchente das suas vidas. Até então, os mais antigos eram crianças quando ocorreu a de 1941, depois a de 1956. Muitos adultos de hoje haviam ouvido falar destes episódios pelos pais e avós. Mais recentemente a enchente de 2020 deixou suas marcas.
Muitas famílias e amigos ainda choram as vítimas da enchente nos municípios do Vale do Taquari (47 até ontem) e outros ainda buscam pelos desaparecidos, (até ontem, 9). Certamente será um longo processo de restabelecimento psicológico e emocional. Entre os que passaram diretamente pela invasão das águas em suas casas, na noite e madrugada dos dias 4 e 5, que antes nunca haviam sido atingidas, há dezenas de relatos tristes, mas também corajosos. Conversando e andando por entre os locais mais atingidos, ouvimos como os filhos tiraram seus pais das casas, de madrugada, pais que ajudaram filhos e netos, parentes, vizinhos que se ajudaram mutuamente, primeiramente ajudando a salvar pertences urgentes, animais de estimação, mas tão logo, ao reconhecer a avalanche da água, salvando a vida de quem podiam. Afinal, muitos não acreditavam que a água pudesse chegar onde chegou. Pelos relatos que nós aqui do AT ouvimos é certo que muitos foram salvos pela capacidade de intervenção de corajosos voluntários, (particulares e públicos) com uma determinação de decisão até então desconhecida. Há relatos de pessoas que foram resilientes na espera pelo socorro mais experiente e público, enfrentando a incerteza.
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Enquanto a vida segue seu ritmo, continua o intenso trabalho de limpeza das casas, lavando e secando roupas, recuperando eletrodomésticos, utensílios, carros e máquinas particulares, que ficaram para trás. Emergencialmente as prefeituras estão fazendo o que podem com seu pessoal e com a ajuda que recebem de municípios vizinhos e órgãos do governo estadual e federal. O trabalho de limpeza das vias públicas até ontem já tinha recolhido em Arroio do Meio 1,5 mil caminhões de entulhos.
Mas, independente deste socorro imediato, desta extraordinária solidariedade de diferentes municípios e estados, de muitas mãos, braços e pernas que literalmente abraçaram a causa “ botando a mão na massa”, o processo de reconstrução depende de planejamento, ações e muitos recursos para serem canalizados em diferentes setores: habitação, (casas e prédios comerciais são pelas últimas contas mais de 200), infraestrutura, (pontes, estradas, calçadas, postes de energia …) educação, (escolas, salões comunitários, igrejas), agricultura ( perda de produção, plantação, animais, instalações, pavilhões, galpões…). Para manter a economia funcionando será fundamental a liberação de crédito de longo prazo, porque centenas de empresas, estabelecimentos comerciais, industriais, de serviços, foram afetados nas instalações e terão que se restabelecer e, na medida do possível, garantir empregos e fazer a economia girar.
De onde virão estes recursos? Além da ajuda prometida e anunciada pelo governo federal e estadual como está explicado nas páginas 5,6, 8 e 9, o próprio município deverá alocar recursos de uma rubrica para outra e auxiliar na destinação adequada de muitos recursos que vieram via pix sob controle de entidades como o Rotary Arroio do Meio e do Tetê Kerbes pela Vakinha.
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Na noite de quarta-feira, na sessão ordinária dos vereadores de Arroio do Meio, boa parte da sessão foi para agradecer às centenas de voluntários, muitos arriscando a própria vida para salvar quem estava em perigo. Foram unânimes nesta avaliação. Destacaram ajuda vinda de municípios como Travesseiro, Pouso Novo, Capitão, Progresso, Sério, cujas administrações enviaram máquinas, caminhões e pessoal. Cobraram agilidade na liberação de recursos, anunciados, bem como execução de novos projetos para reconstruir o município. Foram unânimes em afirmar que, apesar de tudo, estão confiantes na capacidade e no espírito de coletividade da população para transformar em pouco tempo o município, com a união de todos.
LIÇÕES QUE FICAM
Na medida em que tivermos processado o luto coletivo em função da catástrofe climática, é preciso partir para além do voluntariado que está sendo fundamental e do envolvimento na reconstrução dos locais mais atingidos. É preciso elencar onde houve falhas, principalmente no sistema de alertas. Fazer um mapeamento mais eficiente de riscos e ações preventivas. Assim como as bacias hidrográficas, rios, arroios, trazem inúmeras vantagens, é preciso incluir programas de prevenções de eventos extraordinários como os que ocorreram em decorrência de ciclone extratropical que foi posteriormente ocasionar as enchentes.