Na próxima segunda-feira comemora-se o dia do professor. Para pensar sobre o assunto, vou lembrar de um livro do ano de 1959, que foi levado ao cinema em 1967 com grande sucesso. O livro é autobiográfico. Foi escrito por E. R. Braithwaite, um negro nascido na Guiana Inglesa. O título tanto do livro como do filme é “Ao mestre, com carinho”. No original: “To Sir, with love”. Personagem principal é o professor, a quem chamam de Ricky. Ele se formou em engenharia e foi viver em Londres na expectativa de crescer profissionalmente. Mas a realidade é dura. Ricky tem dificuldade de achar emprego como engenheiro. Enquanto espera uma oportunidade, aceita o cargo de professor em uma escola pobre da periferia. Ninguém quer dar aulas lá e o professor logo percebe a razão. Sua classe é formada por adolescentes indisciplinados e rebeldes. Eles não querem nada com nada na escola. Só, talvez, namorar colegas.
Nesse ambiente, a vida do professor é um desafio difícil. Ele tenta cativar o grupo e nada funciona. Até o dia em que chega perto de abandonar tudo. Para começar, abandona os livros didáticos. Coloca-os simplesmente na lixeira, ante o susto dos alunos. Quase em desespero, pergunta o que a turma gostaria de estudar.
A resposta vem. Há uma série de temas da vida cotidiana que interessam. Bom, daí por diante a história se encaminha para um final feliz. A partir daquilo que interessa, a classe acaba estudando todos os assuntos e nesse caminho vai reconhecendo a ajuda do mestre. Passa a cooperar e a aprender.
No fim, a festa de formatura da turma é comovente. Uma aluna canta uma canção linda, exatamente com esse título: “Ao mestre, com carinho”.
O livro – o filme mais ainda – foi muitas vezes taxado de demasiado açucarado. De fato, é doce acompanhar o caminho que leva do inferno ao paraíso, mas isto não retira o significado importante que a obra tem. É verdade que a presença de um bom professor pode transformar positivamente a vida dos alunos. Como a história bem mostra, não existe uma fórmula infalível. A ajuda do mestre pode ser feita de incontáveis maneiras. No interior de uma mesma classe, alunos diferentes podem ser impactados de forma diferente.
O que parece que não muda é que o professor precisa estar bem preparado, precisa se dedicar a sério. No caso de “Ao mestre, com carinho”, só foi possível dispensar os livros didáticos, porque o professor sabia muito. Tinha o saber que a experiência dá e tinha o saber que os estudos dão. Por isso ele faz de conta que abandona os livros. Ele tem condições de ensinar sem precisar abrir em uma determinada página.
Além disso, o professor foi capaz de fazer crescer a confiança na escola. Isto se deu por ele estar sinceramente envolvido com sua tarefa. Qualquer um nota quando há encenação, em vez de verdade. Tal postura colaborou para que cada aluno compreendesse que é responsável pelo próprio destino e pudesse ir ganhando confiança em si. Em vez de ficar dependente do professor, aumenta sua autonomia.
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Da minha parte, acredito que o bom professor consegue contagiar. Seu amor pelo conhecimento, o amor que tem por ensinar fazem diferença. Essa é a ideia presente na frase de Yeats, poeta irlandês, que definiu educação assim:
“Educar não é encher um balde. Educar é acender um fogo”.