Perdi a conta das crônicas de admiração por aqueles que deixam a atividade profissional, o tempo com a família e amigos, além de colocar em xeque a própria reputação para disputar o cargo de prefeito. É um desafio único. O sistema de fiscalização das contas públicas, a escassez de recursos, o volume de problemas que exigem soluções urgentes e o contato epidérmico com a população – que cobra pessoalmente – provocam a desistência de muitos pretendentes à função. Sou filho de ex-vereador, quando não havia remuneração para exercer o mandato. Todos os dias meu pai recebia agricultores na estação rodoviária para encaminhar aos órgãos públicos, obter o “talão de produtor”. Ou receber atendimento médico ou solucionar pendências na prefeitura. Muitos compartilharam o almoço com nossa família ou passaram a noite conosco. Todos os desafios da administração municipal foram elevados ao extremo com as enchentes que castigaram o Rio Grande do Sul no início de setembro. O mundo literalmente caiu sobre os prefeitos a exigir a adoção de medidas extremas mesmo para o conturbado cotidiano das administrações. Nosso país é pródigo em soluções perfeitas, mas apenas na teoria Além dos efeitos da natureza, os gestores do Vale do Taquari enfrentam obstáculos que parecem absurdos, mas presentes na rotina de reconstrução. Existe todo tipo de aproveitador. Há aqueles que desviam mantimentos, outros vendem roupas arrecadas em brechós e os que criam cards nas redes sociais com PIX particular para ganhar dinheiro. Conversei com muitas pessoas envolvidas em campanhas humanitárias. São inacreditáveis os episódios de insensibilidade que proliferam nas frentes de ajuda àqueles que perderam tudo que juntaram na vida toda. Outro fator que incomoda, atrapalha e revolta é a existência dos palpiteiros de plantão. Eles têm soluções fáceis para tudo. Ignoram, por conveniência, o volume de problemas, as limitações financeiras e materiais dos municípios, a realidade local. O momento deveria ser de solidariedade total, união, respeito aos esforços diuturnos dos que “colocam a mão na massa”. Infelizmente nosso país é pródigo em soluções perfeitas, mas apenas na teoria. Erros são normais. E tudo que os gestores públicos não precisam neste momento são críticas levianas daqueles que deveriam empregar tempo, energia e criatividade no auxílio à reconstrução de vidas.