Estou juntando todos os textos não jornalísticos que um dia escrevi (e guardei), para buscar ideias para um livro de crônicas, ou poemas. Quem sabe letras de músicas? Sim, escrevi algumas, participei de festivais em parcerias bacanas com amigos músicos. Guardo alguns troféus, mas o mais importante está seguro em minha mente: a disposição de não fechar portas à criatividade. A vida é um sopro que, eventualmente, troca as placas e ficamos meio perdidos. Cadê aquela missão? O que eu faço com tanto tempo vago e tão escasso rendimento?
A resposta, diria Bob Dylan, está no vento a soprar. Prestemos mais atenção ao cotidiano. Algo se quebrou nas rotinas, eu sei, e isso não é ruim. Estou juntando todas as peças possíveis desse jogo existencial, em rimas, gravações em estúdios caseiros, lidando com músicos que mal conhecia e, nesta nova rotina, uma nova parceria surgiu. Outro colega, igualmente aposentado, gosta de escrever canções e já temos embaladas uma sequência de 10 títulos. Lindos, melódicos e nossos!
Sabe a maior de todas as vantagens? Nós não sonhamos com a fama, a glória milionária que vemos nas duplas sertanejas, nos músicos estrangeiros da moda, ou os mais antigos que vivem dos lucros passados. Estamos vivendo a energia de criar algo – para nós – diferente e, acima de tudo, autoral. Escrevemos sobre o amor, sobre as desilusões ou tensões de um mundo que não nos dá trégua com tanta maldade.
O terrorismo que provoca tantas mortes, tanto descrédito na raça humana, está aí, quase batendo às nossas portas. Cheias de alarmes, câmeras de vídeo que nos dão uma necessária sensação de segurança. Mas eu, mesmo assustado e impactado com toda essa violência, transformo cada dia em uma nova oração. Acredito em um Deus que não aceita o mal como resposta.
E para ele, faço a minha parte, doando meu escasso talento, o que resta de inspiração, para ser um sujeito minimamente equilibrado. Se for para dar exemplo que seja o de aceitar a aposentadoria como um momento de renovação, nunca acomodação. E fiz essa mudança por dias de sons, música e artigos que, talvez, influenciem aqueles que se preparam para esse momento.
Lá fora, o mundo desaba, o ódio oprime e faz jorrar o sangue de inocentes. Dizer que meu pensamento é simplório, ao enfrentar a dor com a rima fácil do amor, não sabe como é melhor o passar dos dias convicto de que o terror e a crença ignóbil da retaliação não são a resposta. Vence quem nunca desiste. E cria, em paz e harmonia consigo mesmo.