Enquanto convive com uma doença chamada ELA – Esclerose Lateral Amiotrófica, uma doença que afeta o sistema nervoso de forma progressiva, o professor José Arno Kehl procura viver a vida ao lado da família, recebendo amigos e compartilhando dezenas de experiências. Ele convive com a dor, que é amenizada pelo carinho e dedicação da esposa, de ex-alunos, colegas professores, companheiros de música, de esportes e amigos que fez na política, passando pelos partidos MDB, PSDB e PP, partido pelo qual concorreu nas eleições de 2020 e conquistou a suplência.
Quase que diariamente ele recebe visitas, principalmente à tarde, permitindo que possa ter um descanso maior de manhã. José Arno é casado com Soli Spiecker e pai de Jakes, Jean, James ( falecido) e Jane e avô da Emily Sofia, Sara Emília, Maria Clara e Afonso que dão um conforto nesta passagem mais difícil da convivência com as limitações da doença. Há algumas semanas, o professor relatou ao jornal algumas passagens da sua vida na política lembrando que sua trajetória começou por convite feito pelo ex-prefeito João Baptista Gasparotto, que em 1977, durante seu mandato de prefeito, o convidou para se filiar ao MDB. O convite não foi por acaso. Certamente, o então prefeito viu qualidades comunitárias no jovem professor, interessado em melhorar a infraestrutura da escola.
“Seguidamente, ia até o prefeito pedir algumas melhorias para as instalações e sempre era atendido. Numa destas, o Gasparotto me convidou para me filiar ao partido e por muito tempo participei do diretório como secretário e como presidente.” Com perfil conciliador, com capacidade de agregar diferentes pontos de vista no mais puro senso democrático, Kehl foi presidente em momentos decisivos do MDB no aspecto político partidário. Ajudou a construir alianças como a que foi feita na gestão Paulo Steiner/Ruy Bersch, representada pelo MDB e PT. Quando a aliança começou a ter ruídos e a maioria do seu partido votou pela ruptura, foi fiel à vontade da maioria dos filiados. “Apesar do estilo conciliador, na política tem que ir pela maioria, é o que prega a democracia”, diz.
Na época, a aliança formalizada ente MDB e PT, três meses antes da eleição de 1996, embora estivesse alinhada entre as principais lideranças, no transcorrer de 1997, primeiro ano de mandato, apresentou críticas e oposição ofensiva por parte de integrantes do PT ao governo, o que acabou gerando descontentamento principalmente entre os emedebistas, recordou. O rompimento da coligação foi oficializado em outubro de 1997, depois de algumas reuniões, com pelo menos 50 filiados, recorda Kehl, que guardou todos os recortes do jornal O Alto Taquari que noticiaram o assunto. Kehl lembra que, como presidente do MDB, introduziu entre outras práticas, as reuniões comunitárias.
“Eu falei com o Paulo Steiner, que devíamos fazer reuniões para ouvir as lideranças e ele me atendeu. Me disse: ‘então vamos começar por Arroio Grande’ e no dia da reunião feita no galpão da igreja teve grande presença de líderes. Sempre acreditei e continuo acreditando que os políticos que não estão perto do povo, pouco conseguem fazer. Não conquistam a confiança. Na política, o prefeito precisa ouvir os líderes das comunidades e também do partido para fazer uma boa administração. Ele acerta muito mais”, pontua.
Kehl também recorda que insistiu junto aos correligionários do partido para que o vereador eleito desse espaço aos suplentes em consideração aos votos dados a ele. “Se um vereador que se elegeu com 500 votos representa uma parcela da comunidade, o outro que fez 300 e não tem uma vaga, ao assumir representa mais uma parcela. É uma política que agrega, é mais representativa”, defendia. Outra ideia foi a criação de um Conselho Político de Administração, para dar subsídios à administração. Entre a promoção de eventos, Kehl recorda que, no período em que foi presidente, foi feito um grande encontro para homenagear políticos históricos e que haviam prestado relevantes serviços em prol da comunidade. A noite de homenagens contou com a presença do então senador Pedro Simon, deputado Gleno Scherer, natural de Venâncio Aires, que tinha boa base eleitoral em Arroio do Meio entre outros, como do ex-prefeito de Muçum Humberto Chitto, então secretário de Estado.
Os méritos da homenagem foram para Arnesto Dalpian, Beno Arno Schmidt, Adolfo Poletto e Osvaldo Trentini. Outro período importante (abril de 2006) foi quando decidiu, com um grupo de integrantes do PMDB, em um movimento liderado por Lúcia Schmidt Horn, na época vice–prefeita de Danilo Bruxel (PP), sair do partido, por conta de difi culdades e confl itos internos. “As decisões acabavam sendo restritas, faltou diálogo, algumas opiniões não eram levadas em conta.” Joner Frederico Kern, que na época era o presidente do PSDB, acabou atraindo o grupo de dissidentes no PMDB entre os quais Ernani Grassi, André Rosenbach, entre outros para o reduto tucano, que na época tinha entre suas principais lideranças o então deputado federal Júlio Redecker e a economista Yeda Crusius, que nas eleições daquele ano foi candidata a governadora para a sucessão de Germano Rigotto (PMDB) e acabou sendo eleita no segundo turno como a primeira mulher a ser governadora do RS.
Kehl recorda que participou do diretório do PSDB, foi presidente do partido e disse que o grupo era bom citando também Adailton Cé, Iltor Friedrich (Xughi) que integravam o partido. Foi candidato a vereador pela sigla tendo somado 272 votos. Apesar de achar positiva a organização de mais forças políticas no município, como PDT, PT, PSDB, PTB, agora o PL, considera que as maiores forças continuam sendo há décadas MDB e PP, que no passado eram Arena e MDB. De alguma forma, a política nacional e estadual reflete na local. No âmbito local, PDT, PT, PSDB, PTB tiveram participação nos governos ou na Câmara, mas nem sempre conseguem se manter ativos e atuantes, por falta de gente disposta a atuar sem pensar em cargos. É positivo que surjam novas forças para oxigenar, para que o povo possa ter mais opções e para que não se criem vícios, mas muitas vezes são feitas apenas para facilitar a vitória de um candidato ou outro.
Atualmente, Kehl integra o Progressistas, partido pelo qual concorreu nas últimas eleições e fez 264 votos e obteve a suplência. Foi chamado a substituir por um período um dos titulares, mas diante do processo da doença há cerca de dois anos, acabou desistindo. Sobre o atual governo, lamenta que a administração do Danilo esteja enfrentando as dificuldades da enchente que atrapalham o próprio plano de governo.
“O Danilo é um bom administrador, está conseguindo fazer muitas obras, como os asfaltos, que eram esperados há anos. O PP também é um partido que tem feito reuniões e a vice tem participação ativa.” Com participação política atuante nos bastidores por mais de três décadas, Kehl diz que o seu objetivo principal nunca foi concorrer. Às vezes que concorreu foi mais para dar uma contribuição ao partido, na hora da eleição, seguindo orientação do partido. Obteve boa votação. “Infelizmente hoje em dia o que pesa na eleição é o fator dinheiro. Nunca concordei em comprar votos. O partido também precisa ficar atento para não colocar mais candidatos em uma área, o que prejudica aquela localidade, que pode ficar sem representante.”
QUESTÕES AMBIENTAIS Como professor, uma das causas que sempre defendeu foram as causas ambientais. Liderou o 1º Projeto de reflorestamento às margens do arroio Grande, formando uma densa mata ciliar e árvores, na década de 1980. Ele acredita que as questões ambientais vão ser essenciais para as próximas gerações e terão que preocupar os municípios.