Uma de minhas frustrações é não ter publicado um livro sobre os meus pais. A dupla Gilberto Delmar Jasper e Gerti Jasper é citada com frequência nas crônicas que público em uma dezena de blogs, sites e jornais Rio Grande afora. Sentir orgulho dos ancestrais é comum. E como jornalista gozo do privilégio da facilidade em redigir e ter espaço para a publicação. Neste viés também lamento não ter buscado minhas raízes, uma reconstrução da árvore genealógica. Já contatei alguns serviços especializados no assunto, mas o custo e a complexidade em buscar dados básicos para iniciar a pesquisa desanimaram.
A obra que imagino contará causos e episódios envolvendo meus pais. Nada mirabolante. Ambos levaram uma vida simples, sem maiores arroubos ou aventuras. Mas recebi deles lições que merecem ser divulgadas para inspirar meus filhos e netos.
O velho Giba foi funcionário da atual Bebidas Fruki, à época Kirst & Cia. Ltda., localizada no bairro Bela Vista, a convite do sogro e meu avô, Bruno Kirst. Ao fixar residência em Arroio do Meio, meu pai envolveu-se na vida comunitária. “Entrava de cabeça” em tudo que se envolvia. E assim fez ao eleger-se vereador, líder comunitário e um dos idealizadores do Conselho de Desenvolvimento de Arroio do Meio. Outra frustração minha é que ele jamais foi lembra[1]do para dar nome de rua ou praça em nosso município.
Na nossa casa sempre havia gente desconhecida convidada pelo meu pai. Inúmeros agricultores foram socorridos pelo velho Giba para obter o ”talão do produtor” ou obter assistência médica e quebrar topo tipo de galho. Muitos almoçavam conosco e eram levados para Lajeado. Minha mãe sempre foi “do lar”, expressão fora de uso e politicamente incorreta para os moralistas de plantão. De baixa estatura e fala mansa, era craque na cozinha, adorava uma piada picante. Doce ou salgado… era tudo com ela! Os finais de semana passados em sua casa – meu pai morreu aos 52 anos – eram uma verdadeira orgia gastronômica.
Nas manhãs de sábado, ela nos recebia com bolo de chocolate e chimarrão no capricho. Pouco tempo depois o aroma de carne assada no forno envolvia a casa, acompanhada da inigualável salada de maionese e massa caseira com molho de guisado. Mal recolhidos pratos e talheres aterrissavam três sobremesas diferentes. Depois da sesta vinha o café da tarde: bolo, pão caseiro, linguiça cozida, café passado na hora. Esta mescla de envolvimento comunitário do meu pai com a onipresente afetividade da dona Gerti forjaram histórias memoráveis que um dia vou eternizar em livro. Eles merecem. E os meus descendentes também.