Chovia muito, as ruas puro barro, galhos de árvores, folhas secas e restos de objetos, alguns inteiros, espalhados onde antes havia uma calçada. Infelizmente não eram presentes caídos do trenó do Papai Noel, mas ainda rescaldo dos dias terríveis de ciclone e enchente. Em meio a tudo isso, caminhava a pequena Jane, ao lado da mãe e outros vizinhos. Esperavam pelo carro que as levaria para longe dali, na casa de familiares na encosta da Serra no caminho que leva ao Natal Luz de Gramado.
A menina chorou porque o pai não poderia ir junto. Estava ocupado demais em salvar o pouco que sobrara do lar humilde, mas sempre bem cuidado. A força das águas havia sido implacável. Sobrara quase nada. Entre esse pouco, uma árvore plástica de Natal, com todas as pequenas lâmpadas, salvas por milagre no forro. Tudo seria levado e somente voltaria após a reconstrução ainda no ano que está por vir. Próximo, embora distante de uma solução definitiva.
É claro que Jane, em seus poucos quatro aninhos, não entendia tudo aquilo. As chuvas, seu quartinho, os poucos brinquedos haviam mergulhado nas águas do Jacuí e não voltariam mais. A única esperança da menina era a generosidade daquele velhinho, barrigudo e suado que, no ano passado, havia lhe deixado as lindas Elsa e Anna, personagens de Frozen, que ela amava. Ainda lhe faltava conseguir Olaf, o bonequinho de gelo, quem sabe não seria seu presente agora?
Mas já lhe haviam advertido que não poderia pedir muita coisa, pois Noel estava atendendo pedidos urgentes de crianças que não tinham mais nada, Tudo fora levado pelas águas. “Tens ainda tuas bonequinhas”, justificaram, sabendo que aquilo não entraria na cabeça de uma criança. Assim, o que ela fez? Pediu para uma das meninas que já sabiam escrever, mandar uma carta para o bom velhinho. Não pedia muito, quem sabe ele conseguiria o Olaf? Aquele boneco de gelo amigo das gêmeas de Frozen? E qualquer outro brinquedo?
A carta foi escrita, revisada pelos pais que juraram encaminhar na agência de correios mais próxima. Jane ficou bem feliz, os pais, muito preocupados. O dinheiro era curto, a conta muito alta para recuperar todo o prejuízo. Mas guardou a encomenda no bolso. Junto a uma lista de coisas que precisaria para ajeitar a casa. E essas, o salário não cobriria. (conclusão na próxima semana).