O Centro Regional de Referência em Saúde do Trabalhador da Região dos Vales (Cerest/Vales) desenvolve ações para a saúde do trabalhador após as enchentes que atingiram o Vale do Taquari em setembro e novembro. De acordo com uma das profissionais que atuam no Cerest, a médica do trabalho, Adriana Skamvetsakis, em função do acontecimento os atendimentos são direcionados para os dez municípios mais atingidos na região e inclui Arroio do Meio. O foco é para profissionais da saúde pública, educação e servidores públicos. Antes de começar os trabalhos, a equipe contata as pessoas que são referência nos municípios para que ocorra o atendimento.
“Começamos com visitas nos municípios conversando com gestores, profissionais de saúde e assistência social e outros para entender a situação, o que necessitavam após o ocorrido. Direcionamos os cuidados aos servidores para que possam cuidar do restante da população, porque todos foram atingidos de alguma forma.”
Entre as ações promovidas para o grupo de profissionais, estão o momento de escuta e de acolhimento e a qualificação para que o grupo atendido pelo Cerest ajudemos demais colegas próximos. “Sabemos que muitos sentimentos são esperados depois de tudo que aconteceu. É normal e faz parte na situação, embora, seja algo sofrido, esse sentir é normal. Caso isso persista após um período, é preciso ter um olhar especial e atendimento individualizado ao analisar cada caso. Aqueles que perderam casas e pessoas queridas, por exemplo, passam por um processo semelhante ao luto. Eles vão precisar reorganizar as suas vidas e encontrar outros espaços para aqueles sentimentos. O sentimento não deve ser sufocado, mas elaborado e é um processo lento.”
Adriana também destaca que o trabalho é vinculado e em parceria com demais instituições como a Secretaria Estadual da Saúde, Coordenadoria Regional de Saúde e Divisão de Vigilância em Saúde do Trabalhador do Estado, além da Força Nacional do SUS e Médicos Sem Fronteiras que é um projeto especialista em atuação nos desastres. “É preciso somar esforços, pois é difícil um órgão só dar conta da demanda. A gente se une e vai preenchendo as lacunas e, assim, fortalecemos o e contribuímos. Somos atores locais e esse cuidado sempre precisa continuar, são efeitos de médio e longo prazo.”
SAÚDE MENTAL
A médica diz que a principal preocupação no momento é com a saúde do trabalhador como um todo, tanto servidor público quanto o privado. Eventos vivenciados na região nos últimos 60 dias afetam de forma direta ou indireta as pessoas e, se não tiverem atenção, podem gerar ansiedade e depressão.
“No trabalho, a gravidade pode ser maior, pois os trabalhadores possuem vínculos com a cidade onde estão. Na atividade laboral, há maior exposição, até porque as pessoas sofrem dentro das empresas, ouvem as mais diferentes histórias e recebem toda a carga. Elas querem respostas, soluções e isso gera muitos sentimentos. Há um grande número que perdeu muita coisa nas enchentes e que precisa se reconstruir do zero. Há muitos gatilhos no ambiente de trabalho e se esses trabalhadores adoecerem a população também perde.”
Portanto, ela dá dicas para o dia a dia para ajudar no equilíbrio da saúde mental. “É preciso cuidar tanto do corpo quanto da mente. Ter momentos de descanso, cuidar da alimentação, praticar atividade física, se permitir ter momentos em que o assunto seja outro, que possa valorizar outras instancias da vida e ter condições de se restaurar e ajudar outros. Importante encontrar soluções para não entrar em esgotamento físico e mental. Recomendo também o suporte com amigos, família, redes sociais e a sua crença que faça sentido. Tudo é um processo de médio e longo prazo, os efeitos negativos podem durar até um ano.”
O CEREST
O Cerest possui sede em Santa Cruz do Sul e atende 62 municípios do Vale do Taquari, Rio Pardo e Jacuí. A sua função é a de desenvolver ações de saúde ao trabalhado e incorporar na rotina de todos os serviços de saúde básica. O objetivo é prevenir adoecimento, por diversos motivos, e acidentes de trabalho. Avaliações especializadas e formações também fazem parte da rotina de trabalho dos profissionais que são médicos, assistentes sociais, terapeutas, fonoaudiólogos, enfermeiros, psicólogos, entre outros.