Uma das coisas mais difíceis quando chegar à velhice é exercitar o desapego. Falo de coisas banais, como doar roupas e calçados sem uso, objetos sem serventia ou abrir mão de manias que estão muito arraigadas em nosso cotidiano. Mudar de rotina, aliás, parece tarefa simples, mas extremamente complexa no momento de colocar em prática. Em relação às peças de vestuário/calçados não tenho problema. Todo início de estação vou ao guarda-roupa para a seleção. Faço doações frequentes sem qualquer “dor no coração”. Mas confesso que uma das coisas mais complicadas para mim é descartar agendas de papel. No sentido contrário à modernidade, gosto de assinalar, à mão, todos os acontecimentos importantes. Isso inclui aniversários, data de falecimento de pessoas queridas, episódios que marcaram minha vida e efemérides em geral. O uso do termo “efeméride”, aliás, denuncia a idade do cronista. Mas… fazer o que, não é mesmo? Devo ter guardado algo em torno de 10 ou 12 agendas. Esta demanda muito trabalho. A tarefa se inicia nesta época do ano, quando começo a pesquisar modelos para, em dezembro, comprar o novo objeto. Feita a aquisição surge o desafio (penoso) de preencher os 365 (ou 366) dias com todas as anotações importantes.
Recordações são importantes, mas muitas podem ser trocadas ou apenas descartadas
Nunca desisti da ideia de usar agendas de papel. Raramente esqueço alguma data importante. Costumo avisar os conhecidos sobre aniversários de amigos em comum. Muitos se surpreendem: – Como tu consegue te lembrar de todas estas datas, hein? – costumam perguntar. E eu respondo que a agenda de papel é a grande arma. Além das anotações, o livreto guarda recordações importantes. Costumo anexar notas fiscais e pulseiras de eventos significativos. Recentemente estive em São Paulo para assistir ao Grande Prêmio de Fórmula 1 com meu filho. Foi a realização de um sonho de décadas, desde os tempos em que acordava o piá aos domingos para assistir à transmissão pela tevê. Agora, na agenda, está grampeada a pulseira “+ 18” que identificava os “maiores de idade” autorizados a consumir bebidas alcoólicas no autódromo. Também guardo mapas de cidade que visito, comprovantes de pagamentos diferenciados e recortes de revistas e jornais e prospectos interessantes. Aos 63 anos de idade, recordações são importantes. Mas algumas podem ser trocadas, descartadas ou simplesmente jogadas no lixo. Renovar é viver.