Nos Natais da infância da minha mãe não existia Papai Noel. Existia o Bambim – que era como se chamava o Menino Jesus, na colônia italiana. Sem luz elétrica, na casa cercada de roça e de mato, o sinal natalino aparecia numa árvore: um pinheiro apropriado para caber sobre a mesa da sala, escolhido entre os pés que cresciam no potreiro. O verde da árvore era mesclado por enfeites criados com os papeis mais bonitos, os papeis guardados ao longo do ano – depois de eles terem servido como embalagem de algum objeto comprado na venda. Haveria um doce ou um presentinho no prato que ficava esperando na mesa. O regalo, que o Bambin deixaria ao passar, mostrava que ele era divino. Tinha nascido em Belém e lembrava de vir também nesta casa, pois amava as crianças do mundo.
Os Natais da minha infância tinham Papai Noel. Ele passava lá em casa, quando escurecia o dia 24. Vinha em pessoa, com a roupa vermelha e um saco nas costas. Trazia ali dentro os presentes. Ninguém esperava as coisas mais caras. Por exemplo, no ano da bicicleta, ela veio para ser partilhada por todos da casa. Mesmo se as crianças soubessem que o ritual não passava de um teatro ensaiado, havia expectativa por abrir os pacotes e era bem bom. Mas o Natal era também outra coisa: o nascimento de Jesus, o presépio e a árvore. Tão verdadeira era a árvore, a ponto de, às vezes, chegar já murcha no dia 25. Na árvore havia bolas de vidro e velas de cera para acender com um fósforo. O presépio ficava sobre um papel tingido das cores que a gente pensava ser o tom de Belém. Um menino sagrado tinha nascido. Rezava-se junto ao presépio e à árvore, mas era difícil atar os significados. Ficava meio confuso. Como conciliar a cena da gruta pobrinha com o Papai Noel distribuindo presentes? E por que tocar Jingle Bells?
A Confederação Nacional dos Dirigentes Lojistas previu no início deste mês de dezembro o gasto médio com os presentes de Natal no Brasil. Por criança, o valor ficará em R$ 138,00. Em outros países os Institutos de pesquisa também se empenharam em divulgar antecipadamente quanto dinheiro será gasto no presente de cada criança este ano. Nos Estados Unidos, serão 200 dólares na média; no Reino Unidos, 119,45 Libras, na França, entre 130 e 200 Euros.
Ficou brega esquecer dos presentes para os bichinhos de estimação no Natal. Ofertas não faltam. As facilidades ajudam. É possível comprar pela internet e receber no conforto de casa. Você pode escolher uma coleira “personalizada”, por R$ 182,00. Pode encomendar uma cama ecológica que serve igualmente para gatos e cães, por R$ 329,90. Se quiser gastar menos, há fantasias de Papai Noel em tamanhos variados para todo tipo de pet, pelo preço de R$ 93,90. Outra ideia é mandar vir uma almofada estampada com a foto do seu bichinho. Esta custa R$ 179,00.
Não vou me admirar se minha mãe voltar com uma pergunta este ano:- Que fim levou o Bambin?

