No decorrer dessa semana, mais de uma semana após o temporal que atingiu RS e região, a RGE ainda seguia com reparos na rede elétrica em Arroio do Meio. Diversos pontos no município ficaram sem energia elétrica. Postes caíram, causaram transtornos e bloquearam estradas. Forqueta, Dona Rita, Morro São José, Morro Gaúcho, Barra do Forqueta e Centro foram alguns locais que ficaram sem luz, total ou parcialmente. Em alguns bairros, somente um fusível do poste desarmou, mas a RGE, detentora da concessão do fornecimento de energia elétrica de parte do RS, demorou mais de 96 horas para realizar a manutenção.
Até a manhã de segunda-feira, 22, a energia ainda não havia sido reestabelecida e tampouco os dois postes que caíram e bloqueavam o acesso ao morro São José, na rua João Erno Henz, em Dona Rita, haviam sido retirados. Além dos postes, cabos de alta tensão também obstruíram a passagem de veículos. Nenhuma sinalização foi feita, apesar de funcionários da RGE terem ido no sábado, 20, até o local para desconectar um dos cabos que ainda estava energizado e oferecendo perigo para quem transitava por ali. Na tarde de segunda-feira, a energia foi reestabelecida, mas depois de quase seis dias sem luz, moradores e produtores contabilizaram prejuízos.
Os irmãos Antônio Sattler, 55, e Luciano Sattler, 44, têm a propriedade em frente ao local onde caíram os postes. Com 35 vacas leiteiras, são produzidos entre 600 e 700 litros de leite por dia. Com a falta de energia elétrica, os agricultores tiveram que recorrer a um gerador de energia. De quarta- -feira, 17, até a segunda-feira, 22, gastaram mais de R$ 1000 em gasolina para abastecer o gerador e manter a propriedade funcionando. “Em poucos dias, gastamos mais em gasolina do que com a luz no mês inteiro. Se não tivéssemos o gerador, as vacas estariam morrendo de mastite. Os postes estão podres há tempo, já deveriam ter trocado”, afirmam. O vizinho Walmor Fleck, 75, também teve prejuízos. Quase 100 quilos de carne que estavam congelados foram perdidos. “Levei até a casa da minha filha, mas já estava muito tempo descongelado.” Além da carne, mais de 20 quilos de aipim também tiveram que ser descartados. Uma pequena parte foi cozida e tratada ao porco. Os 13 bovinos perderam peso porque tiveram que mudar a alimentação.
Leandro Arenhart, 53, proprietário da pousada Morada dos Anjos e presidente da Associação da Água do Morro São José, expressou sua indignação com o descaso da RGE. “Antes desse temporal, qualquer vento que dava, o morro já ficava sem energia. Eles esperam acontecer para tomar uma atitude. Há muitos galhos perto da rede elétrica e não é feito nada. A RGE diz que a poda é responsabilidade do Município e o Município fala que é da RGE e quem sofre são os moradores. Tem agricultores com animais, que dependem da ordenha, produtores de frango, também há idosos que dependem de uso de equipamento médico. Realmente, é um desrespeito com o contribuinte que paga a conta em dia.
MUNICÍPIO NOTIFICOU RGE
Com a demora no restabelecimento da energia elétrica em Arroio do Meio e após vários pedidos realizados junto à RGE, o Município notificou extrajudicialmente a empresa RGE e cobrou o restabelecimento urgente da energia em todo município. O restabelecimento da energia ocorreu na terça-feira, 23, uma semana após o temporal, mas reparos pontuais seguiram sendo realizados durante a semana, além de outros agendamentos.
R$ 912 MIL DE PREJUÍZOS
Na zona rural, de acordo com levantamento do Conselho de Desenvolvimento Agropecuário (Conar), elaborado com a Emater/RS-Ascar e Secretaria da Agricultura, os ventos causaram danos a quatro moradias, sete galpões, quatro pocilgas, sete estufas, 15 hectares de milhos grão e 35 hectares de milho silagem totalizando em torno de 367,5 toneladas, a morte de dois mil frangos, perda de 173 mil litros de leite e despesas de R$ 93 mil com combustíveis para geradores. Lembrando que a maioria dos geradores agrícolas não opera em 24h e é direcionada para serviços básicos e minimizar os prejuízos. Além disso, 413 famílias ficaram sem energia e tiveram perdas de alimentos que estavam nos refrigeradores. O total de prejuízos ultrapassa R$ 912 mil. O laudo já foi encaminhado para o Poder Executivo decretar situação de Emergência na Defesa Civil.
Foto: Leonardo Lange Barth