“Beber até morrer, essa é a solução? O tédio lhe domina, a vida não dá tesão, mas outro porre desse você nunca vai esquecer e o fígado é só seu, de mais ninguém”. Esse é um trecho da música ‘Beber Até Morrer’, lançada em junho de 1989 pela banda ‘Ratos de Porão’. Nessa época, Heli Rosenbach, então com 34 anos, estava sóbrio há cerca de sete anos. Porém, após muita insistência de um amigo, em dezembro de 1989, Heli bebeu o primeiro gole. A cerveja era uma Malte 90. Foi o necessário para voltar a ‘afogar’ o fígado e perder o ‘tesão’ pela vida.
“Foram 30 dias em que não ficava mais sóbrio. Fiquei três dias em estado de coma no último porre. Eu estava em um balneário na Picada Vinagre, em Travesseiro. De lá, à meia-noite, me levaram carregado direto para a Central”, lembra Heli, que trabalha há 16 anos com extração e venda de madeiras.
No dia 15 de janeiro de 1990, a família de Heli decidiu então, novamente, interná-lo em uma clínica de reabilitação. Dessa vez, passou 35 dias na Central – Centro Regional de Tratamento e Recuperação de Alcoolismo, de Lajeado, e, desde então, nunca mais colocou um gole de álcool na boca. São 34 anos de sobriedade, completados na última segunda-feira, 15 de janeiro.
Evitar o primeiro gole
Em 1983, aos 27 anos, Heli já havia sido internado na Clínica Pinel, de Porto Alegre. Ele começou a beber aos 15 anos de idade. Nos primeiros anos, bebia somente nas festas com amigos e aos poucos começou a frequentar bares e beber sem limites, diariamente, até chegar no fundo do poço e ser internado pela primeira vez. “Em uma tarde, eu chegava a beber um engradado de cerveja sozinho.” Foram sete anos livre da bebida, até que teve a recaída. “É melhor evitar o primeiro gole. Até hoje, pessoas me oferecem o copo, mas o ‘não’ tem que ‘cantar’, porque a recaída é pior.”
Aos 68 anos, Heli frequenta o bar quase que diariamente. “Fico uma hora, por aí, tomo um refrigerante, às vezes jogo uma canastra, e depois volto para casa. É difícil passar um dia em que eu não vou na bodega.”
Ele se orgulha de estar sóbrio há 34 anos e afirma que parar de beber foi a melhor decisão que ele poderia ter tomado. “Senão, já estaria morto. Parar de beber só lhe traz vantagens. Se eu decido que vou levantar às 2h para rachar lenha, eu consigo. Agora, se estou com a ‘lata cheia’, não consigo nem levantar.” Heli tem o empreendimento no bairro São Caetano. Trabalha com a extração e venda de madeiras, a maioria eucalipto, para lenha, escoras, postes e afins.
Ele deixa o recado: “Se você não parar de beber, pode chegar no fundo do poço e depois para sair é complicado. Não é fácil, mas largar a bebida só lhe trará benefícios.” Heli irá completar 69 anos de idade no próximo dia 19 de junho. Com 0% de álcool no sangue e com 100% de vontade de viver a vida.
Elogios do prefeito
“Sempre que o encontro, elogio ele pela atitude que teve, porque esse vício já destruiu tantas famílias e ele teve essa atitude corajosa de dizer ‘eu vou parar’ e parou”, enaltece o prefeito Danilo Bruxel. “Hoje ele tem um convívio familiar e social muito bom, está sempre animado e trabalhando para progredir. Tem muitos amigos e continua frequentando espaços públicos, mas sabe se controlar. Então, quero dar os parabéns pela atitude que ele tomou há 34 anos e que esse exemplo sirva para outras tantas pessoas que estão enfrentando esse problema”, finaliza.
AA do município em novo endereço
O tradicional Grupo Socorro de Alcoólicos Anônimos de Arroio do Meio está atendendo em novo endereço desde essa quinta-feira, 18. As reuniões passam a ocorrer todas as quintas-feiras, das 20h às 22h, no antigo prédio da Brigada Militar, localizado na rua Maurício Cardoso, no Centro, em direção ao bairro Aimoré.
Antes, o grupo se reunia no prédio da antiga escola São Paulo, mas devido às enchentes do ano passado, escolas de Educação Infantil foram realocadas para o local. Durante e após a pandemia, o grupo ficou por um tempo inativo, mas foi reativado e agora conta com 5 a 10 participantes, dependendo da semana.
Não é necessário realizar contato prévio para participar das reuniões, basta chegar no dia e na hora da reunião que será bem recebido. Além do alcoolismo, a dependência química também é abordada no grupo. Familiares de alcoólicos também podem participar das reuniões, visto que também sofrem com a doença de forma indireta. Telefone para tirar dúvidas e obter mais informações: (51) 995004226 (João).
A Casa Branca, espaço focado para a saúde mental, localizada na esquina da rua Visconde do Rio Branco com a rua São João, no Centro do município, também recebe alcoólicos e dependentes químicos que buscam ajuda para tratar o vício. Lá, são realizadas avaliações e feitos os devidos encaminhamentos clínicos.
Foto: Rejane Maria Kuhn


