Localizado às margens do asfalto que leva ao município de Travesseiro, distante onze quilômetros do trevo de Arroio do Meio, mais precisamente em Forqueta, fica o Comercial Weschenfelder, cujo único dono até hoje é o senhor Aloysio Antônio Weschenfelder, de 88 anos.
A história do armazém não pode ficar sem ser contada, pois os próprios móveis denunciam o quanto de memórias existem nesse espaço. E quando se escreve, isso é perpetuado.
Poderia escrever laudas e laudas, mas para priorizar é necessário contar apenas fatos interessantes e talvez até desconhecidos aos olhos dos mais novos. Vamos a eles.
Venda, armazém, mercearia, enfim, os nomes são vários, e vários, também, são os produtos que têm, que vão desde a farinha até cachaça. Tem de tudo, separados por móveis antigos, alguns até já sofrendo com o tempo. Mas passa uma ideia de passado com alguns elementos modernos que se contrastam. Só para constar, o pix e a máquina de cartões não chegaram ainda.
Você, leitor, por exemplo, sabe o que é um caderninho de fiado? É um livrinho que ainda existe na venda do Seu Aloysio. São pequenas cadernetas, onde se anota a data e o item comprado, para, geralmente, no fim do mês, ser pago pelo cliente. Mas, pasmem, tem livrinhos de dez, doze anos cujas dívidas não foram pagas.
Você nota que ao chegar por lá, há quase que um autoatendimento, as pessoas que vêm se conhecem e acabam, na maioria das vezes, se sentando na frente, numa espécie de bar, para bater um papo ou jogar carta. É um ponto de encontro de amigos.
O armazém já existe há 58 anos e no começo era uma alfaiataria. Também, nos tempos idos, se trocavam mercadorias por alimentos para a família. O próprio dono levava ranchos aos clientes e voltava com animais como porcos e galinhas. Ovos da colônia se vendem até hoje.
Eu falava de móveis durante o texto e dois de fato chamam a atenção até hoje: o balcão que se guarda o dinheiro que é manual e de madeira maciça com portas de rodas e com uma idade de mais de 70 anos e o lugar onde se guardam os retrós de linha, de varias cores. Hoje, esse item nem é comprado; está obsoleto nesse móvel e também já perdeu a qualidade. Talvez o que haja de mais moderno, adquirido pelo dono tenha sido o frigobar para armazenar as bebidas, especialmente cervejas.
Já quase ia esquecendo que a cachaça que se bebe, tem que ser das ‘boas’, a tradicional alambique. Ela chama clientes fieis até hoje, embora no passado havia os mais assíduos. Hoje, a bebida que mais sai é a cerveja e junta pessoas de todas as idades.
Não faltam boas histórias contadas e dá para se sentar junto e dar boas risadas. O que seu Aloysio ressalta é que tem gente que vem todos os dias no bar e sempre acaba levando um pacote de açúcar, de erva, de sal para casa. E há os que vem buscar um e outro item e ficam sempre para dar aquela risada e de uma conversa boa. É um lugar de amigos, onde as pessoas se conhecem. Claro que passam mais pessoas e todas são bem vindas e tratadas com simplicidade e passam por interrogatório (coisa de interior…’onde você vai’, ‘de onde você é’…).
Dedico esse texto ao amigo Rogério Winck, por dar a ideia de escrever sobre o Armazém que ele conhece tão bem.