Ao passar dos 60 anos tenho escrito ainda mais sobre os desafios da velhice, termo demonizado pela postura ditadora do “politicamente correto”. Exercer as funções de jornalista exige atualização constante, o que provoca atritos entre as diversas gerações que habitam redações e assessorias de imprensa. Alguns amigos contemporâneos de profissão incorrem no erro básico de brigar com a realidade. Além de ignorar a necessidade de modernização, entram em conflito com colegas mais jovens que detêm a competência de usar a tecnologia para potencializar os serviços. Há muitos anos convivo com jovens, dentro e fora de casa. No trabalho a convivência com estagiários ensina muito, numa via de mão dupla porque na reciprocidade procuro ensinar macetes da profissão. Costumo dizer que um depende do outro. Sou basicamente redator, um “escrevedor”, criador de conteúdo que precisa adequar o tamanho dos textos conforme as necessidades – para um artigo de jornal, um post nas redes sociais ou no X, antigo Twitter. A gurizada entende com requinte para fazer a “embalagem” correta, editando imagens e vídeos, adequando cores e trilhas sonoras ao conteúdo desejado.
Forjar relações exige solidariedade e compreensão sobre virtudes e defeitos onipresentes no ser humano Muitas vezes há falta de paciência de ambos os lados. Nós, velhos, sofremos deboches, somos vistos como superados e que ocupam vagas de trabalho que deveriam ser dos mais jovens. Muitos colegas, no entanto, não levam a sério aqueles que possuem menos experiência. Ridicularizam estudantes ou recém-saídos da faculdade, como se fosse possível terminar os estudos como profissional pronto e acabado. Meu grande laboratório foram os filhos, hoje com 27 e 29 anos. Na época da adolescência a casa estava sempre cheia de colegas e amigos que conhecíamos pelo nome.
Fazíamos churrascos e confraternizações, estreitando laços. A experiência ensinou o linguajar, as reações e a melhor maneira de fazer a abordagem da gurizada. Como em tudo na vida, equilíbrio, tolerância e paciência são ingredientes vitais, segredos da boa convivência e da harmonia mínima no ambiente de trabalho. O choque de gerações é um fenômeno tão antigo quanto o mundo. Se encarado com sobriedade rende ótimas relações, amizades longevas e parceiros para uma vida inteira. Forjar relações requer solidariedade, a tal empatia para se colocar no lugar do outro e compreensão sobre virtudes e defeitos onipresente no ser humano. Na convivência entre velhos e jovens isto não muda. Pelo contrário, deve ser fortalecida, estimula[1]da e exercitada todos os dias. Viver é compartilhar.

