Um livro publicado no ano de 1859 abalou o mundo. Ele colocava o pensamento científico em oposição ao pensamento religioso, então dominante.
Trata-se da obra de Charles Darwin, “A origem das espécies”, que fala do processo de seleção natural. Na natureza – ensinou Darwin – os seres vivos evoluem. As formas de vida vão se modificando com o passar das gerações. Aquelas que sobrevivem dão origem a indivíduos aparelhados com alguma competência extra, mais apropriada às novas circunstâncias.
As afirmações de Darwin foram resultado da observação. Durante cinco anos (de 1832 a 1936), viajou a bordo do navio Beagle, da Marinha Britânica, coletando e examinando espécies vegetais e animais. Nos anos seguintes, organizou os dados, para, enfim, elaborar suas conclusões e publicá-las décadas depois.
Darwin demonstrou que os seres vivos se transformam, não permanecem iguais. E, o mais importante de tudo, isso se dá através de um processo de seleção natural. Mas, diferentemente do que se poderia pensar, os indivíduos que sobrevivem não são nem os mais fortes nem os mais inteligentes. São aqueles que mais facilmente conseguem se transformar.
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Agora que as escolas voltam ao burburinho do retorno às aulas, parece bom pensar um pouco sobre a relação dela com os novos tempos.
Impossível negar que a instituição escolar atravessa um período difícil. Não é raro ouvir que ela se tornou obsoleta e inútil. Igual afirmação às vezes é aplicada aos professores. Já ouvi perguntar se não seria o caso de os educandários se dedicarem a oferecer alimentação e acesso ilimitado à internet.
É certo que setor educacional não pode ignorar mudanças. Adaptar-se é imperativo. Vale lembrar as conclusões dos estudos de Darwin. Ou seja, para sobreviver, é preciso ser capaz de incorporar transformações. Mas cabe lembrar também que transformar-se não significa perder a identidade. Muito pelo contrário. O elogio fúnebre feito à fundadora do grupo Magazine Luiza, recentemente falecida, reforça este entendimento. O necrológio dizia que a empresa criada por ela “demonstrou ao longo de seus mais de 65 anos, uma incrível capacidade de se transformar sem abrir mão dos seus valores”.
Sim, a escola é e continuará sendo relevante. Pode perder importância como transmissora de informação, já que a informação está disponível por todo o lado. Mas vai aumentar o destaque como espaço para analisar, para avaliar dados e para exercitar a crítica e a criatividade.
A rigidez hierárquica vai ceder lugar para a cooperação, mais capaz de acolher a diversidade de formas de ser e de pensar. Habilidades de comunicação tendem a de ser cada vez mais valiosas. E a liderança do professor no processo seguirá indispensável.
Talvez a novidade mais notória seja a necessidade de os indivíduos reforçarem o conhecimento de si mesmos. Será vital conseguir identificar as próprias necessidades, para fazer as próprias escolhas. Não queremos viver num mundo em que as pessoas viram reféns da tecnologia, por mais admirável que a tecnologia seja.
Aliás, quando você vê alguém que não consegue desgrudar do celular, pensa o quê? Pensa que é o cara ou que é a tecnologia que está no comando?