Diariamente milhares de seres humanos desaparecem feito espumas de sabão em nosso país. Mulheres e crianças sofrem com estupros físicos e morais, homens são humilhados por outros homens, nos mais diversos espaços. A vida segue assim um ritmo acelerado, onde a maioria é escrava de sua própria rede social, de conceitos digitados raramente aplicados na vida real. Enquanto isso, as muitas carrancas da marginalidade invadem todos os espaços em nome de um egoísmo vil, ideologias ou alienação oportunista. É um lado assustador do Brasil moderno, gigante acéfalo, aos trancos.
Precisamos trabalhar, cuidar da família e o suor e a energia gasta com tanto sacrifício, aparentemente resume-se a esforços braçais, em um vale-tudo que não envolve, por exemplo, a cultura da solidariedade, de um senso ético mais refinado. Eu sinto que nos isolamos e vamos atrás de pautas prontas, temas aparentemente difíceis, mas de respostas fáceis. Estupro? Violência atroz. Prendamos todos os responsáveis. Mas o que sugerimos para combater esse crime. E tantos outros? Encerro a semana cansado de soluções instantâneas para questões históricas.
Lamento o ato de transmitir valores culturais andar tão por baixo, muito fixado em postagens de redes sociais. O que anda por cima, afinal? Melhor não responder. Filtro tudo o que ouço ou leio. E não bebo para esquecer. Afinal, dezenas de lideranças, mestres que admirei, estão em casa, contando o vil metal, pretensamente guardado por Deus, conforme cantou Belchior, um raro menestrel, também engolido pela loucura cotidiana. Ainda somos os mesmos e vivemos como nossos pais?
Quando vejo a juventude a levantar símbolos falidos parece que tudo é apenas uma repetição enfadonha. Os mesmos protestos, os discursos alinhados em ideologias que pouco nos trouxeram benefícios. Não quero deixar a existência como um dos que perdeu-se na descrença. As crianças continuarão a sumir, perdidos nestes vácuos de prazer, sejam nascidos em berços esplêndidos ou na mais profunda miséria.
A compaixão continuará uma virtude de fracos, caso não façamos nada. Quantos terão de qualquer maneira, o carro de última geração ou a medicina que salvará a vida, sem que seja necessário acabar com o vírus, eliminar a fonte que o recria mil vezes. Tudo pode ser melhor, mais equilibrado, desde que aceitemos o moderno como a evolução do que preservamos e nos permitiu crescer como um todo.
Educação não é nada, sem apego a condição humana em sua essência, aos princípios básicos de respeito às semelhanças e dissemelhanças. Nunca, em nenhum momento, perder o senso crítico que cimenta o verdadeiro conhecimento, aquele que vai muito além das redes sociais, dos acordos embriagados de botecos ou das certezas de uma geração contraditória e egoísta.