Foi há alguns anos que, numa disciplina de Mestrado, na PUC, em Porto Alegre, na primeira aula, o professor perguntou quem de nós assistia ao Big Brother Brasil. Era bem a época do programa, que não me lembro mais qual o ano, a versão, os participantes.
Nitidamente, a cena ainda passa na minha cabeça, depois de tantos anos. E, após um longo silêncio, após a pergunta, timidamente, dois levantaram o braço dizendo que sim. Eu e mais um colega. Veja, que a turma era grande.
Achávamos certo que receberíamos um sonoro xingão, com direito a uma lição de moral. Mas tudo foi bem diferente. Ele parabenizou quem havia dito sim e ainda disse o porquê. Tratava-se de uma maneira de entender a sociedade e desse jeito pensarmos nossas atitudes e foi mais além, disse ainda que como gênero de entretenimento televisivo, copiado de outros países, era importante olhar para ver o que tanto chamava atenção das pessoas, quais os elementos que compunha esse Big Brother. Foi ainda desenvolvendo mais argumentos, embora esses tenham sido os principais para mostrar que deveríamos assistir, claro, sem fanatismo.
Agora, vou dizer a vocês que eu assisto mesmo. Mas, calma, antes de me condenar. Não sou fanática e não assisto a Globoplay, muito menos a todos os programas, ou seja, diariamente. Longe disso, é vez por outra.
O porquê de assistir? Justamente, para, como meu professor disse naquela época, entender as representatividades, a cultura, a maneira de ser e pensar as pessoas da nossa sociedade. Confesso que dá vontade de chorar, mas são pessoas reais e muitos pensam assim como os que estão lá.
Se alguém quiser falar comigo sobre jornal, sobre gibi, sobre o gênero romance, vou saber conversar, pois já os li. É assim, com os programas de televisão, também. Como eu quero dialogar se nem conheço. Posso não gostar, mas até para isso tenho que ter argumentos.
Li do ‘Carpinejar’ e de mais alguns autores, uma das tantas observações que dão para serem feitas, mas só as consegue fazer quem olha o programa: o fato de que não há livros, revistas, nada de cultura nesse programa. Realmente um desserviço para quem assiste e meses de ‘burrice’ para quem está confinado lá dentro. Há, estímulo, lá dentro, sim, para o ‘barraco’, para as discussões e para as alusões à sexualidade. Uma pena, para, num horário tão nobre, com tantas culturas representadas a gente não possa debater outras coisas, ter espaços para leitura, troca de ideias, jogos de liderança com ensinamentos modernos e aprender com eles. Pena que não conseguem ser inspiração para nós.
Não sou defensora e não gosto desse programa, mas sei da sua existência, do que acontece e de quão lamentável são algumas atitudes das pessoas. Eu assisto, eventualmente.
Essa crônica debateu argumentos que mostram que o programa não é bom, porém, eu só soube disso assistindo e também, aqui para nós, e com outro ponto, no fundo desse texto, se essa é nossa realidade, se o programa é o retrato dela, em que mundo vivemos?