Nos últimos anos, cozinhar virou uma coisa muito chique. Pode aí tirar a prova. Nove entre dez pessoas sabem cozinhar ou tem planos de aprender. Há uns 30 ou 40 anos o cenário era bem outro. Quem estava cozinhando funcionava atrás de portas. Na sala, os comensais aguardavam os petiscos, indiferentes ao processo. Ou seja, cozinhar era um trabalho que interessava a poucos. Hoje, virou um tipo de diversão ou hobby.
Não é difícil estabelecer a ligação entre esta mudança e as viravoltas no nosso jeito de viver. Atualmente se preparam muito menos refeições em casa, seja por que a oferta de alimentos prontos é maior; seja por que aumentaram as opções de comer em restaurantes de preços acessíveis. Mas o interessante é que, quanto menos a cozinha é usada, mais cresce o interesse pelas artes culinárias.
Estão aí os filmes, livros e programas de TV para comprovar o fato. Jamie Oliver, por exemplo, é um chef de cozinha e personagem televisiva conhecida em todo mundo. O bonitão Oliver começou como auxiliar de restaurante em Londres e hoje é uma celebridade. Quase um astro.
Pois bem, em entrevista recentemente concedida, Jamie Oliver disse que o aumento do interesse pelas artes culinárias tem a ver com a tecnologia que tornou os utensílios de cozinha mais funcionais. Com isso a tarefa dos cozinheiros ficou mais fácil. Os utensílios novos poupam o tempo antes gasto com tarefas enfadonhas como – palavras dele: “como picar legumes”.
Opa! Eu quase acho graça do que Oliver aponta como exemplo de facilidade. Ficou mais fácil cozinhar por causa dos utensílios novos que apareceram? Essa não, violão!
Nós, que viemos de outros tempos, sabemos que não foram os utensílios funcionais os responsáveis por facilitar a vida na cozinha. Toda uma estrutura se alterou. Olha só. Uma vez, se visita inesperada chegasse para jantar na nossa casa, deflagrava-se uma quase maratona. A operação começava num ponto quase inacreditável hoje em dia. Era preciso pegar no galinheiro um frango; matar o frango; depenar o frango; limpar o frango e picar a carne. Paralelamente, cabia colher na horta os legumes e temperos necessários, além de cuidar do cenário para o cozimento. Isto quer dizer que tínhamos de carregar lenha e gravetos para casa e armar o fogo no fogão. Só depois de toda essa logística, vinha propriamente o preparo da comida. De modo que, num conjunto assim, picar legumes… ah! picar legumes respondia pela parte mais levinha do trabalho. Picar legumes era coisa mixuruca, ninguém dava a menor bola.
Ou seja, quem não viu nossas avós envolvidas no preparo do jantar conhece pouco sobre a facilitação das tarefas culinárias. Jamie Oliver que nos desculpe.