O filho mais jovem de um amigo passa pela adolescência. Está mergulhado até o último fio de cabelo nessa complicada etapa de amadurecimento. E aí lembrei meus dias de plena “aborrecência”, nos rebeldes anos 60. Tudo me parecia dramático. Olhava no espelho e não me reconhecia entre espinhas no rosto. Aliás, que nariz estranho era aquele? Uma bolota inchada!
Na adolescência se ama ou se odeia demais. O mundo que parecia tão bom, os amigos da escola, os professores legais, os programas com a família, de uma hora para outra, se transformam na mais pura chatice. As notas na escola lá em baixo, as notas na guitarra lá em cima! You say goodbye, I say hello! Haja ouvidos para tanta dissonância, haja saúde mental e financeira para bancar acompanhamento psicológico, professores particulares e festas da turma.
O pelotão de ameaças em repetir o ano avança como também se amontoam os bilhetes da escola, o relaxamento nos cadernos, nas mochilas e por aí afora. Vejam os adolescentes de uma importante escola de Porto Alegre que recentemente, se utilizaram de IA – Inteligência Artificial para criar imagens falsas de suas jovens colegas como se estivessem nuas.
A partir de agora, com apoio das novas tecnologias, o bem e o mal se esforçam em uma luta desigual entre os jovens. Enquanto isso, a contabilidade dos pais – pobres sofredores -, se transforma em voo rasante no desequilíbrio financeiro. Mesmo os que podem bancar, sem dificuldades, acompanhamento psicológico, perdem o sono e a tranquilidade com um adolescente na plenitude da insatisfação. Isso passa. Mas a que custo!
Quantos não pensaram “conosco será diferente! Não cometeremos os erros de nossos pais severos ou frouxos demais”. Familiares que não puderam bancar a boa escola, o curso especializado. E agora o que se faz ao ver o filho, do alto de sua soberba juvenil decretar, por exemplo, que será um líder desafinado da nova revolução musical? Um beatle do Século 21? Ou a substituta da norte-americana Taylor Swift?
E você aí, negociando com o gerente do banco um empréstimo para a aula particular, a terapia, com o dinheiro que pagaria alguns dias em Buenos Aires, ou uma academia para melhorar o corpo que se encaminha para a fase aguda da maturidade (para não dizer velhice). Sim, pais atentos ou omissos enfrentam igualmente a adolescência.
Lembro que eu cheguei ao extremo de sonhar em dar uma sacudida nos meus adolescentes (foram três), como se agita um frasco de temperos que precisa estar homogêneo. Mas fatalmente seria preso por maus-tratos e ainda ouviria os mais insanos desaforos adolescentes. “Vocês não nos amam! Eu nasci na família errada! Eu, eu e Eu!”
E aí – nós, vós, eles – esforçados no politicamente correto e que tínhamos a certeza de sermos muito bons no trato familiar, fraquejamos. Alguns como eu, se abraçam em dezenas de livros sobre o tema. Nunca vou esquecer uma dessas publicações, “Terapia Cognitivo-Comportamental para Adolescentes: Uma Perspectiva Transdiagnóstica e Desenvolvimental”. Só ao ler o título já tremi.
O mais importante é que essa difícil fase passa. E se tivermos paciência, confiança em nosso trato e amor, tudo se resolverá para o melhor porque, cá entre nós, adultos imaturos sem a vivência adolescente, seriam muito piores nesse mundo já confuso. Mas essa é uma discussão para outro artigo. Até lá!