Uma das primeira pessoas que me procurou, quando assumi na nova Comarca, foi um dos sócios de uma concessionária de automóveis. Ele era uma espécie de relações públicas da cidade e meio que me adotou. Amigo de todos, gostava de estar cercado de pessoas, exercendo um papel relevante no relacionamento entre autoridades.
Com sua liderança natural e gosto por festas, sempre dava um jeito de reunir juízes, pretores, promotores, policiais e advogados para um churrasco, com alguma atração musical. Como sabem, todo jantar de membros da área do direito acaba descambando para discussão de casos concretos. Sentado ao meu lado, ele insistia para eu tratar de desviar o assunto e fazer o pessoal ouvir a música e cantar. A intenção era desestressar o grupo.
Sempre me falava e se dedicou a localizar e conseguir uma paca, criada em cativeiro, melhor carne que já comi, e conseguiu um profissional, com seu apetrechos, para nos servir pintado defumado, também uma delícia. Tínhamos tanta afinidade que me pediu e o orientei na solução de um problema que o afligia.
Numa dessas ocasiões me falou dos problemas que nossa polícia, Brigada Militar e Bombeiros enfrentavam com escassez de verbas para combustível. O Conselho de Segurança Pública – CONSEPRO – com a contribuição voluntária dos cidadãos, adquiria máquinas, computadores, materiais e até veículos, ou os reformava, para dar aos órgãos de segurança melhores condições de cumprir sua missão ante a negligência do Estado.
Às vezes era necessária uma atitude drástica. Certa ocasião o agente penitenciário me falou que os presos estavam vindo a pé para as audiências ante a recusa dos motoristas do ônibus urbano em transportá-los.
Quando a procissão de algemados saiu do fórum, liguei para um jornalista e pedi para posicionar um fotógrafo na esquina. No outro dia bem cedo o deputado da região jogou o jornal na mesa do governador, estampando a foto de capa dos presidiários. Em três dias o presídio tinha uma viatura para transporte de presos. A ideia era suprir os órgãos de segurança de combustível para que pudessem melhor circular.
Assim, surgiu o Clube da Gasolina, que não tinha Estatutos, nem Diretoria, mas que funcionava muito bem. Por aclamação ele era o eterno Presidente e eu o orador oficial. A reunião era uma vez por mês e, é claro, com um lauto jantar em que ele trazia sempre seu Boonekamp alemão, bitter digestivo, para me oferecer após o jantar.
A contribuição mensal para o Clube era em gasolina, e os veículos oficiais estavam autorizados a abastecer suas quotas nos postos de combustíveis, por contribuição destes ou custeados por empresas.
Nessas reuniões se estabelecia um contato direto entre os associados e as autoridades, que eram questionadas diretamente sobre eventuais problemas da comunidade, ou outras dúvidas de interesse de todos, podendo esclarecê-las ou resolvê-los. Havia sempre convidados de outras cidades e era minha tarefa explicar sobre o funcionamento do clube e sua finalidade, como uma espécie de orador oficial.
O interessante é que a ideia se alastrou e surgiram muitos clubes nos mesmos moldes pela região e, creio, perduram até hoje. Já o Consepro, criado naquela época, persiste até hoje, sendo o responsável por administrar o estacionamento rotativo pago nas ruas da cidade onde moro.

