Enrolados em problemas, situações mal resolvidas e toda sorte de chateação, os habitantes considerados racionais deste nosso planeta, tem uma capacidade interminável de andar em círculos. E não é porque a Terra não é plana que surgem dificuldades para visualizar soluções. Quando se sabe qual a melhor atitude, muitas vezes, vem o medo a impedir uma libertadora realização. A insegurança de quebrar a rotina da dor, da humilhação imposta por terceiros é igual a chegar bêbado à beira de um penhasco onde – lá embaixo – vivem as ameaças, as intimidações ou pior, os próprios temores íntimos a gritar “Não faça isso, deixe assim!”
E aí, a vida destes bípedes doidos por desfrutarem as coisas boas, transforma-se em um contraditório acorrentar-se a carências e angústias. O resultado é a ilusão da fuga. Lá vão machos e fêmeas, a escapulir entre as grades criadas com as próprias mãos. Saem às escuras em busca do prazer, da realização e acabam melados no açúcar da culpa. O risco de danos é muito maior. Voltam à masmorra com um breve sabor de satisfação. Deixam rastros, impressões digitais, mentiras digitadas.
Toda insatisfação deve ser resolvida na hora certa. Mas quando chega esse bendito momento? Muitas vezes, tais fugas acontecem como acidentes de percurso a provocar danos maiores do que o simples encarar da realidade. O peso, cada vez, aumenta mais e a responsabilidade se torna um fardo a ser arrastado enquanto o cotidiano um suceder de sustos.
E aí somos seres estranhos que pedem socorro às pessoas erradas e nos irritamos ao ouvir o que não queremos. Imagino o tortuoso caminho de volta ao começo que muitos precisam fazer para recompor a própria história, a dignidade rompida. O maior desafio nunca é enfrentado contra um oponente mais forte, mas contra a própria imagem.
Lembro a frase genial do beatle John Lennon na canção de ninar que escreveu para o filho Sean: “A vida é aquilo que acontece enquanto você está ocupado fazendo outros planos”. Ou seja, na maioria das vezes falta foco. O que seria importante manter, sei lá, um emprego, uma relação afetiva, não era na verdade o verdadeiro embate.
De qualquer maneira, sempre existe uma alternativa. Uma lição a ser aprendida a cada quebra de paradigma. Os enganos ficam no passado. Como alerta, advertência. O ideal é voltarmos a esse grande sanatório existencial dispostos a viver o real. Projetos vazios que durmam na lixeira. E aí, naquela bendita hora certa, serão definitivamente apagados. Afinal, uma vida de remorsos e culpas não tem a menor graça. Qualquer humano sabe disso. Ou não?