Existe uma gangorra entre as coisas que valem a pena e aquelas que devemos evitar para não pesar muito e nos deixar de castigo, lá em cima, com os pés bem distantes de um solo firme e confiável. É o tal do equilíbrio, um pêndulo meio enferrujado nos dias de hoje onde, aparentemente, todos têm razão, mas nunca estão totalmente corretos. Viva a contradição que nos veste de monges quando, na verdade, deveríamos apenas trajar o direito de acertar e errar. É essa busca que nos torna mais respeitáveis na classificação de quem conquistará uma estrelinha por bom comportamento.
Seguidamente sou citado entre amigos e colegas de trabalho, como um sujeito equilibrado e tranquilo. Eu, daqui do vulcão que não permito jamais entrar em erupção, me ponho a rir. Assim como tantos outros talvez guarde como maior virtude, a capacidade de manter as lavas da insatisfação, sempre distantes da depressão. Busco, lá no fundo, o que realmente sou, independente do que venho a representar para os outros.
Evitemos uma postura de soberba. Sempre tão frágil. Aprendi que assumir-se como centro da humanidade é uma espécie de escapismo originado, quem sabe, em limitações impostas por uma infância sofrida, dramas mal resolvidos, frustrações diversas.
Sempre que me sinto um zero à esquerda, busco o que convulsionou meus interiores e, com brutal esforço, é claro, dou um jeito de resolver a pendenga e me perceber muito maior, e melhor, do que pontuais dramas existenciais. E a paz ressurge, armada até os dentes, por uma desafetação divina. Sem antidepressivos!
Assumir a limitada condição humana implica em aceitar erros – nossos e de terceiros – e cá entre nós, isso permite um certo alívio. Tira a corda – ou cinto – do pescoço. Desarma o espírito e sei, ajuda a dividir a dor com os outros, sem parecer um chato a reclamar de tudo e todos.
Tem gente que passa metade da vida entre queixumes de falta de reconhecimento de amigos, de familiares, de amantes, de eleitores e candidatos. Quase morrem desgostosos. Mas nunca conferem como anda a estima. Gostar-se, um pouquinho que seja, faz bem.
Afinal, como dizia John Lennon, “Podes viver uma mentira até o fim, mas uma coisa jamais conseguirás esconder o tempo todo: é quando estás amassado por dentro”. Vivamos então, a nossa dor, como se o dia de amanhã estivesse confirmadíssimo tolerância e céu azul.
Mas se porventura chover, que seja uma bênção a irrigar a esperança, confirmando que somos todos tão originais, tão únicos, que merecemos – e devemos – inspirar com o nosso melhor, aqueles que circulam – temerariamente – entre os limites da razão. Assim, mansamente, a gangorra dificilmente nos deixará de castigo, lá no cume da insatisfação.