ONGs, igrejas, iniciativa privada, voluntariado, pessoas do povo.
Estes são os verdadeiros heróis da tragédia sem precedentes do Rio Grande do Sul. Órgãos públicos tiveram participação importante, mas a burocracia impediu o salvamento de vidas, patrimônios e sonhos.
Moro em Porto Alegre. À distância, a dor é enorme. A cada vídeo ou foto de Arroio do Meio as lágrimas brotavam abundantes, ainda é difícil dormir. Aos 63 anos, nascido no município e visitando a cidade com frequência, não reconheço vários locais mostrados nas imagens.
Revolta profundamente constatar a exploração política e a insensibilidade de gente que não conhece a realidade do Interior e defende a manutenção das eleições de outubro. Presidente Lula veio ao RS e por 43 minutos prometeu mundos e fundos. “Cada um de vocês terá uma casinha”, disse ele sem ficar vermelho. Igual postura do governador Eduardo Leite.
Desde setembro, 28 casas pequenas provisórias foram entregues no Vale do Taquari, todas em nosso município. TODAS entregues pelo Sindicato da Construção Civil do RS. Lula e Leite entregaram ZERO residências. Por que acreditar nesta demagógica promessa de “dar casas para todos vocês” e nas “cidades provisórias”? Por que fazer isso com pessoas já tão sofridas?
Tivemos muita água, mas revolta a insensibilidade
de autoridades pagas através de nossos impostos
Milhares de pequenos/microempresários esperam há oito meses as migalhas de Brasília para reabrir negócios e gerar empregos para aquecer a economia da região. Não é pessimismo ou opinião política. É a vida real: sem casa, comida, roupa, esperança e ânimo para viver.
Duas epidemias se avizinham. Doenças mentais e criminalidade. Até quando serão mantidos os abrigos e o contingente de voluntários? As pessoas precisam voltar à rotina de trabalho e cuidados com familiares. Quem cuidará de milhares de flagelados que não têm para onde ir?
A exploração política, que culminou com uma “intervenção branca” em nosso Estado, é uma vergonha inominável. No ano passado tivemos um sem-número de revoadas de helicópteros lotados autoridades na região imaginem agora! Fotos, entrevistas coletivas, promessas fáceis e proselitismo político será a tônica.
Perdão pelo mau humor. Mas é preciso manter acesa a chama da esperança e também da indignação. Do contrário, teremos mais tragédias que servirão de exploração de pessoas que perderam tudo pela quarta vez em sete meses. A enchente da semana passada, de “repique” do rio Taquari, contou como uma nova cheia.
Tivemos muita água, mas revolta a insensibilidade de autoridades pagas através de nossos impostos. E que deveriam, no mínimo, cuidar da vida de quem sequer consegue se vestir, comer e morar com dignidade.