A catástrofe da enchente que assolou Arroio do Meio, a região e demais municípios do Estado, afetou as residências, empresas, bens materiais e também a saúde mental de quem sofre as consequências. Com o objetivo de auxiliar as pessoas atingidas e os profissionais que atuam no resgate das vítimas, a Sociedade Brasileira de Psicanálise de Porto Alegre (SBPdePA) realiza atendimento gratuito online para o Vale do Taquari, demais cidades gaúchas e presencial para a Capital Gaúcha.
Conforme a presidente da SBPdePA, a psicanalista Patrícia Rivoire Menelli Goldfeld, a ideia surgiu a partir do trabalho promovido pela gestão anterior nas enchentes de setembro de 2023 no Vale do Taquari. “Eu tive a experiência no projeto e queria dar continuidade como assumi a nova gestão no começo do ano. Então, pensei em refazer o mesmo programa do ano passado para auxiliar as pessoas de alguma forma. Estamos tendo muita procura.”
Conforme explica a psicanalista, no Vale do Taquari o atendimento ocorre de forma online por videochamada ou por telefone. Para marcar a consulta, é preciso enviar uma mensagem ao número (51) 99113-5950 com Vera Hartmann. Já as pessoas que estão na região da Grande Porto Alegre recebem pessoalmente a visita de 42 profissionais nos abrigos para atendimento presencial. Em alguns locais como Pelotas, uma equipe é organizada para o presencial. O grupo da Capital não consegue se deslocar para o Vale em função das quedas e problemas em pontes.
COMO FUNCIONAM OS ATENDIMENTOS
O atendimento não ocorre de forma tradicional como em consultórios; mas, sim, como uma escuta do que pacientes precisam verbalizar. “A pessoa pode falar tudo que sente e o que está passando no momento, assim consegue se organizar e voltar para o seu eixo. É uma forma de ajudar com que siga adiante e evita que ela adoeça. O paciente se sente mais seguro para enfrentar o que vem como a reconstrução e a assimilar as perdas que teve de bens ou pessoas. Assim, ela também reflete sobre tudo que se conecta com os sentimentos. No atendimento, não acessamos o passado, como a terapia, não há um tratamento, mas essa escuta é importante para que saia do período complicado sem tantos traumas. Chamamos o trabalho de atendimento de crise. Caso ele sinta que deve seguir com outros profissionais da saúde ou com medicamentos depois do nosso auxílio deve buscá-lo.”
No caso daqueles que resgatam pessoas, o atendimento é necessário, porque ficam traumatizados devido à empatia com o próximo. “São pessoas que se dispõem a auxiliar e acabam sofrendo com tudo. Eles precisam ter apoio de grupos, horas de descanso e restringir o contato com tudo isso.”
Entre os problemas encontrados em pacientes já atendidos são crises de ansiedade, depressão e stress pós-traumático. “Esses acontecimentos foram de forma abrupta na vida de todos, ninguém esperava. Na hora que ocorre, ainda não cai a ficha, a primeira preocupação é salvar a vida e de pessoas queridas. Quando as vítimas chegam nos abrigos notam a diferença, estão longe de casa, do seu espaço. Em Porto Alegre, houve problemas com facções, as pessoas que não tinham acesso a violência começaram a presenciar. Então, afeta de várias formas.”
EQUIPE QUE AUXILIA
Depois de elaborar o projeto deste ano, Patrícia publicou o folder nos grupos de WhatsApp e demais redes sociais. Diversos profissionais da área da saúde mental como psicanalistas, psicólogos e psiquiatras de todo o Brasil se colocaram à disposição para atender de forma gratuita. “Temos mais de 126 membros na lista que são de locais como Recife, São Paulo, Rio de Janeiro e Brasília. E como desta vez praticamente todo o estado sofreu com as enchentes, logo começamos os atendimentos e vejo que está dando certo e é eficiente.”
Foto: Arquivo Pessoal