A Câmara de Vereadores de Arroio do Meio realizou na quarta-feira, dia 15, sua primeira sessão ordinária depois da maior catástrofe ambiental que atingiu o Vale do Taquari e o RS na história. Três projetos de lei de autoria do Executivo, todos em regime de urgência, foram apreciados e aprovados por todos os presentes. A vereadora Adiles Meyer (MDB) esteve ausente.
Um dos projetos trata da concessão de aluguel social mensal, para as famílias arroio-meenses atingidas pelas inundações e alagamentos do rio Taquari e rio Forqueta, ocorridas entre 30 de abril e 6 de maio, decorrentes do desastre classificado e codificado como Tempestade local/Conectiva – Chuvas intensas – Cobrade, do Ministério do Desenvolvimento Regional, com o objetivo de custear a locação de imóveis por tempo determinado. O valor do aluguel social será de R$ 800 mensais, para as famílias que são proprietárias e moradoras dos imóveis afetados pelas inundações e alagamentos. E de R$ 400 mensais, para as famílias moradoras, mas não proprietárias, dos imóveis afetados pelas inundações e alagamentos.
Outro projeto trata sobre a isenção do Imposto Sobre Serviços de Qualquer Natureza (ISSQN) sobre a prestação de serviços destinados à reconstrução da Ponte de Ferro. Também foi aprovada a cedência de servidores durante o estado de calamidade pública entre os municípios de Estrela e Arroio do Meio. Segundo os vereadores, tratativas semelhantes foram feitas com Lajeado, mas não evoluíram até o momento.
SUGESTÕES DA COMUNIDADE E CORTES PARA REEQUILÍBRIO FUTURO – Marcelo Schneider (MDB) lamentou mais uma tragédia ocorrida na cidade, em todo o Vale e em praticamente todo o Rio Grande do Sul. Num momento complicado como este, observa-se que os empresários estão engajados em diversas frentes, enquanto a Administração está focada em outras. Também alguns vereadores foram atingidos, mas estão auxiliando o próximo. Contudo, ele avalia que o mais importante é cuidar das pessoas e das pontes que garantem as conexões necessárias para manter as empresas e os empregos. Além disso, o interior também foi gravemente afetado, ocasionando uma pane total. O vereador expressa desconhecimento sobre a forma como o governo está atendendo a essa classe, mas afirma que até agora não viu nenhuma ação em prol dos atingidos. Ele sugere uma cobrança mais incisiva para que estes possam continuar a fornecer alimentos para as pessoas. Deseja força para todos nos próximos dias, que serão difíceis. Destaca que a comunidade possui muitas ideias valiosas que precisam ser ouvidas e colocadas em prática. Ele solicita que a Administração apresente, na próxima sessão, um relatório financeiro detalhado para determinar o que pode ser feito e o que pode ser cortado para priorizar as necessidades deste momento desafiador. É hora de fazer sacrifícios para ajudar a comunidade.
UNIÃO DO LEGISLATIVO E EXECUTIVO PARA RECONSTRUÇÃO – Nelson Paulo Backes (PDT) lamentou a tragédia que assolou o município de Arroio do Meio e todo o Vale do Taquari. Ele expressou pesar pelo sofrimento das pessoas, considerando-o extremamente triste. Elogiou a iniciativa dos poderes Legislativo e Executivo em se reunirem, demonstrando a grandeza da comunidade local ao deixarem de lado questões políticas e trabalharem juntos na elaboração de ideias para toda a sociedade. O vereador considerou extremamente difícil compreender o motivo de o povo estar sendo tão castigado, dizendo que isso causa dor no coração. Lembrou que em sua gestão enquanto prefeito, não aconteceram enchentes, o foi construída a Escola Atalaia no bairro Navegantes, atendendo reivindicações da comunidade assim como muitos investimentos públicos e privados feitos em locais atingidos. Com profunda tristeza, lamentou todo o sofrimento do povo e também os casos de criminalidade que ocorreram após o evento catastrófico, destacando que essas pessoas não representam a comunidade arroio-meense. Ele ressaltou que o interior sofreu grandes perdas com a enchente, com alguns produtores praticamente perdendo sua identidade. O vereador elogiou o voluntariado envolvido na recuperação. Ao final, emocionou-se ao mencionar a situação da Escola Guararapes e sugeriu que a Administração providencie condições para que aqueles que puderem retornar ao seu lar, mesmo sendo um local afetado pela enchente, possam fazê-lo gradualmente, pois a solução para o problema habitacional não será resolvida a curto prazo.
CALMA, CARINHO E ESPERANÇA EM VALORIZAÇÃO A COMUNIDADE – Maria Helena Matte (MDB) enfatizou que a sessão estava sendo diferente do que todos desejavam, com um sentimento de consternação presente em todas as pessoas. Ela considerou difícil pedir às pessoas que acalmem seus corações diante de tal situação, especialmente com quatro enchentes ocorrendo em um período de apenas oito meses. “Ninguém merece passar por isso”, afirmou. A vereadora expressou que não há palavras adequadas para confortar as pessoas nesse momento, mas destacou a importância da união para reconstruir o município. Ela ressaltou a necessidade de manter a esperança e a determinação, deixando as questões políticas de lado e focando em apoiar aqueles que perderam tudo. Maria Helena salientou a importância de pensar em conjunto, incluindo a comunidade, para resolver a situação e permitir que o município se reerga. Além disso, elogiou o voluntariado das pessoas que vieram de outras cidades e estados para ajudar, assim como o apoio de municípios de outros estados às cidades afetadas. No final de seu discurso, a vereadora, também atingida pela enchente, emocionou-se ao relatar a situação vivenciada.
CONJUNTURA DIFÍCIL DE SUPERAR A CURTO PRAZO – Vanderlei Majolo (PP) comentou que, em seu quinto mandato, esta é a pior sessão da qual participou, considerando-a a mais triste diante do episódio catastrófico. Ele relatou ter ingressado na vida pública em 1995, acompanhando a evolução do município e o engajamento dos políticos em trazer benefícios para a cidade, sem nunca imaginar enfrentar tais episódios. O vereador observou a força do Vale do Taquari, que contribui significativamente para o orçamento do Estado. Destacou sua sensação de impotência diante de uma situação que chegou de forma tão silenciosa, pegando todos de surpresa e criando uma conjuntura difícil de enfrentar, com a impossibilidade de uma solução rápida. “Juntos somos mais fortes. Só assim podemos superar e tentar recuperar o município e a dignidade das pessoas, para que possam enxergar uma luz e retomar suas vidas”, afirmou. Majolo elogiou a visita de familiares de Chapecó, que trouxeram mantimentos e expressaram o desejo de ver pessoalmente o que aconteceu no município. Ele avaliou e lamentou as mudanças nas condições climáticas e ressaltou a importância de encorajar as pessoas a construir em locais seguros. O vereador também mencionou o trabalho de retirada das pessoas atingidas, observando que muitas ainda duvidavam da possibilidade de o evento ocorrer. “Meus irmãos estavam ajudando diversas famílias a salvar seus pertences, mas nunca imaginamos que a casa da minha mãe seria atingida. Ela só salvou uma muda de roupas”, repercutiu. Por fim enfatizou a necessidade de sensibilizar especialmente o Governo Federal e minimizar as questões burocráticas para alcançar recursos.
SUCESSÃO FAMILIAR NA AGRICULTURA FICA AINDA MAIS DELICADA – Roque Haas, O Rocha (PP), expressou tristeza, destacando que este é o sentimento compartilhado por todo o estado. Ele mencionou o impacto devastador que a tragédia teve na vida das pessoas idosas e de muitos trabalhadores que perderam tudo de uma hora para outra. Rocha discorreu sobre a situação dos agricultores que tinham a viabilidade de continuar em suas propriedades com sucessão familiar, mas que agora perderam essa oportunidade devido às quatro enchentes consecutivas e às secas, resultando na perda de animais e de toda a plantação. Ele ressaltou que tanto a situação financeira quanto a emocional desses agricultores foram gravemente afetadas, pois trabalharam todos os dias apenas para ver regressão. O vereador compartilhou que sua empresa também foi atingida pelas águas, assim como outras empresas na vizinhança, e enfatizou a importância da ajuda mútua para reconstruir a cidade. Ele avaliou que a catástrofe representou um retrocesso de 20 anos e previu que será difícil reabrir novas empresas no futuro. Rocha destacou as dificuldades enfrentadas pelos empresários que pagam aluguel e compram produtos com prazo. Enfatizou a necessidade de os políticos se unirem para evitar que a comunidade do Vale sofra com a falta de empregos e as dificuldades na agricultura nos próximos anos.
ATUALIZAÇÃO CADASTRAL NO CRAS É ESSENCIAL PARA DIMENSIONAR IMPACTOS – Alessandra Brod (PP) iniciou seu discurso com a palavra “calamidade”. Ela ressaltou que é difícil ter uma noção real do impacto que a situação está causando na sociedade, sendo este muito maior do que as cheias vivenciadas anteriormente. Alessandra expressou que chegou a um ponto em que lidar com tudo que está acontecendo se torna extremamente difícil, especialmente após o decreto de calamidade, quando não há mais como lidar com a situação. Ela observou que o estado emocional das pessoas também está se esgotando e destacou a empatia das pessoas não afetadas, que muitas vezes conseguem se colocar no lugar do próximo. A vereadora descreveu o município como estando em uma condição de sofrimento e enalteceu o trabalho dos voluntários, assim como o apoio dos municípios de Chapecó e Santa Cecília, que adotaram Arroio do Meio. Ela destacou o engajamento tanto das pessoas locais quanto das de fora para o progresso do trabalho de recuperação. Alessandra mencionou o serviço prestado pelo Cras, enfatizando a necessidade de cadastro para que as autoridades possam saber quantas pessoas foram afetadas e assim liberar as verbas dos governos estadual e federal, ressaltando a importância de manter os cadastros atualizados. Ela também mencionou que Arroio do Meio foi adotado pelos municípios de Santa Cecília e Chapecó e que recebeu muitas doações e voluntários, destacando a necessidade de dar atenção especial à grande quantidade de roupas recebidas. A vereadora reforçou a importância das doações e do trabalho voluntário realizado pelas pessoas.
COMPROMETIMENTO DO FUNCIONALISMO PÚBLICO, VOLUNTARIADO E EMPRESARIADO – Cesar Kortz (MDB) observou que o fim de abril de 2024 será lembrado por todos como a maior tragédia do Vale do Taquari. Ele ressaltou que ainda não se tem a dimensão completa do desastre, com diversos locais devastados e enormes prejuízos em todas as partes do município. As estradas encontram-se em condições caóticas, e ele espera que o poder público consiga dar atenção a todos os setores afetados. Kortz expressou gratidão aos voluntários que já ajudaram, estão ajudando e ainda irão ajudar, destacando o apoio de muitos empresários e o comprometimento dos funcionários públicos. Ele compartilhou uma experiência em que, na noite do dia 29, foi abordado por um motorista de ônibus que estava com todas as crianças a bordo e não sabia o que fazer. Kortz deu orientações ao profissional e, no dia seguinte, soube que todos estavam bem. Ele também elogiou o trabalho do voluntariado, reconhecendo a importância de cada gesto, por mais simples que seja. Em relação à localidade de Palmas, ele mencionou a falta de internet, energia elétrica e água em poucas casas, além da situação delicada do setor primário e industrial. Kortz ressaltou que um dos maiores prejuízos de Arroio do Meio foi a queda das pontes, mas enfatizou a importância da união de todos para reconstruir o Vale.
SOCORRO ÀS INDÚSTRIAS E AGRICULTORES PARA REEQUILÍBRIO SOCIOECONÔMICO – Paulo Heck (MDB) ressaltou que a catástrofe afetou a grande maioria dos municípios do Estado e que Arroio do Meio levará muitos anos para se recuperar. Ele destacou o papel das empresas e entidades que estão auxiliando a comunidade durante esse período difícil. Em relação à agricultura, Heck afirmou que deve ser uma prioridade, pois a produção e o comércio sofrerão reduções significativas. Ele lamentou a falta de energia em algumas indústrias e a necessidade de desobstruir as ruas, entre outros desafios. Quanto à construção de novas casas, ele considerou impossível fazê-lo em tempo recorde. Em relação ao comércio e à indústria, o vereador mencionou que algumas empresas sofreram perdas superiores a R$ 80 milhões e enfatizou a importância de ajudar esses setores a manterem-se e a preservarem a mão de obra. Heck destacou que, atualmente, o conforto vem da solidariedade, mas ressaltou que isso não será eterno, e que o apoio de pessoas de fora é significativo, mesmo que seja apenas um abraço. Ele cobrou o restabelecimento do fornecimento de energia elétrica e água e sugeriu a criação de comissões para discutir e encontrar alternativas para a situação. “Temos que viver um dia de cada vez. E hoje já foi um pouco melhor que ontem”, concluiu.
DESBUROCRATIZAÇÃO PARA AGILIZAR RECONSTRUÇÃO E RESTABELECIMENTO DA DIGNIDADE – José Elton Lorscheiter, o Pantera (Republicanos) também abordou a enchente que atingiu o município, mostrando surpresa pelo fato de a água ter invadido a Escola Guararapes. Ele lembrou que o primeiro rastro de destruição ocorreu em setembro de 2023 e que agora a destruição foi completa, ressaltando que as pessoas que não presenciaram a devastação não conseguem compreender totalmente o que aconteceu. Lorscheiter sugeriu a união dos entes políticos, prefeitura e vereadores, enfatizando a necessidade de desburocratizar o encaminhamento de verbas. Ele destacou a importância de demonstrar que são capazes de agir de forma diferente, deixando de lado as questões políticas neste momento crucial. O vereador apontou que há aspectos que nunca mais serão os mesmos, como a situação de produtores que não têm recursos para cuidar de seus animais. Ele ressaltou a importância da união para preservar a economia, o município e o Estado do Rio Grande do Sul. Lorscheiter elogiou o voluntariado local e a ajuda de outros municípios, observando que, em algum momento, será necessário retribuir esse apoio.
IMPACTOS EM ARROIO GRANDE E PREOCUPAÇÃO COM O FUTURO SOCIOECONÔMICO – Rodrigo Kreutz (MDB) descreveu a sessão como a mais triste que testemunhou em seus anos como vereador. Expressou a dificuldade de encontrar palavras reconfortantes para as pessoas diante do cenário de guerra que se apresenta. Mesmo após duas semanas, ainda há pessoas sem acesso à água e energia elétrica. Kreutz compartilhou sua experiência como operador de máquina, relatando que passou duas noites sem dormir, trabalhando na limpeza das estradas após as enxurradas. Ele destacou que em Arroio Grande, quatro pontes foram levadas pela enchente, obrigando as pessoas a deixarem suas casas devido ao risco de desmoronamento. Tanto na cidade quanto nos bairros, as dificuldades são evidentes. Muitos produtores rurais ficaram duas semanas sem conseguir ordenhar suas vacas devido à falta de energia elétrica, afetando a todos no setor. Kreutz expressou a crença de que não há mais pessoas desaparecidas ou mortas, mas manifestou preocupação com o desemprego, já que muitas empresas demitiram funcionários. Em relação às doações, ele enfatizou a importância da transparência. O vereador argumentou que não se pode tolerar um tempo tão longo para a recuperação da ponte sobre o rio Forqueta, e reconheceu a dificuldade de ajudar a todos, considerando as limitações de recursos. Ele enfatizou a necessidade de encontrar soluções para a situação.
Foto: Solano Alexandre Linck