Meu neto de seis anos, o Pedro, perguntou o que eu ensinava, quando era professora.
Disse a ele que ensinava Inglês e Português.
O menino me olhou muito espantado. Entendia que se precisasse aprender a falar uma língua estrangeira, mas embatucou com o Português. Por que é que alguém teria de ir à escola estudar Português?
– Português a gente já sabe, vó.
Tentei argumentar de um modo que o Pedro conseguisse alcançar. Expliquei que a gente sempre podia conhecer outras palavras. Também, que dava para aprender a falar de um jeito mais bonito, além de compreender melhor os livros que se lêem.
O Pedro ouviu e não disse nada.
Não tenho certeza de que ficou convencido da utilidade de estudar Português.
Em todo o caso, quem ficou embatucada com a conversa fui eu. Vim pensando sobre o caso até agora.
Parece bem razoável ter um entendimento como o Pedro tem aos seis anos. Quando ele diz uma coisa, todo mundo entende; quando alguém fala com ele, ele também entende. Não é possível negar que sabe Português. O que ele não suspeita é que uma língua é um universo imenso. A gente passa a vida aprendendo sobre ela e não chega nem perto de saber tudo.
Às vezes, pessoas com bem mais do que seis anos de idade, pensam igual ao Pedro. Ou seja, por conta do conhecimento limitado, acreditam saber mais do que de fato sabem. Esta afirmação se aplica para todos, a começar por mim, e vai passando por detetives, motoristas, pedreiros, doutores e etc, etc.
A facilidade de acesso à informação virtual favorece este nosso engano. Dá chance de entender que informação é a mesma coisa que formação. Mas não é.
Informação a gente cata como as galinhas catam milho no terreiro. É fácil. Formação é outra coisa. É um processo lento, cumulativo e que não acaba nunca. Algo que demanda muita dedicação, horas e horas de estudo. Pense na diferença entre arranhar um violão de ouvido e ser um músico completo. Pense na diferença entre bater uma bolinha e ser um atleta olímpico. Pense na diferença entre um móvel e o verniz aplicado sobre a madeira.
A inocência dos seis anos é maravilhosa. Esse tempo, em que pensamos que sabemos mais do que sabemos, deixa uma saudade brutal. Mas, quando o amadurecimento ocorre, as certezas se dissolvem no ar.
E não voltam nunca mais.