Sempre fui romântico. Daqueles empedernidos. De escrever cartas, deixar bilhetinhos carinhosos, comprar muitos presentes e flores. Aos 64 anos, ainda cultivo estes hábitos porque mais do que nunca não se pode perder a ternura neste mundão materialista em que agir com o coração soa babaca.
A valorização do “ter” em detrimento do “ser” é fenômeno verificado em todos os segmentos da vida. Na política então nem se fala. Estamos às vésperas de uma nova disputa municipal, a mais empolgante de todas porque envolve pessoas conhecidas. Parte delas será eleita para trabalhar por nossas comunidades, dar qualidade de vida aos necessitados e despertar uma centelha de esperança àqueles que perderam tudo na enchente.
Ainda guri, percorri o interior de Arroio do Meio na chamada “caça ao voto”. Meu falecido pai foi candidato – e elegeu-se – vereador na década de 60. Eu tinha sete/oito anos quando aprendi o que era bipartidarismo: havia apenas a Arena – partido do governo e militares – e MDB, sigla que abrigava integrantes de todas as correntes de oposição.
Lembro-me dos comícios realizados em bodegas, salões paroquiais e de baile, canchas de bochas e onde fosse possível juntar gente. Findos os inúmeros discursos chegava a hora do pastel com cerveja, ou guaraná (no meu caso), tudo pago pelos candidatos. À medida que o pleito se aproximava aumentavam a tensão, as provocação e as apostas.
Eram anos em que, acima de tudo, estava
a busca de soluções para Arroio do Meio
Engradados de cerveja – à época feitos de madeira – era moeda forte, juntamente com os chamados “churrascos da vitória”. Havia poucas surpresas. Todos sabiam das preferências partidárias de cada família. Havia apostas individuais em sessões/urnas eleitorais espalhadas pela cidade e interior. Lembro que meu pai ao lado do saudoso Erico Kuhn. Ambos eram craques da matemática política. Quando erravam uma previsão era por muito pouco. Conheciam as tendências e os eleitores.
A apuração demorava vários dias. Por muitos anos foi realizada em Lajeado, depois no Clube Esportivo, ponto central das tensões arroio-meenses e dos eleitores de Nova Bréscia. A transmissão das emissoras de rádio do Vale do Taquari concentravam as atenções da política paroquial. Como a maioria precisava trabalhar ao longo da semana, a audiência era enorme. Muitos faziam cálculos, elaboravam mapas eleitorais.
Velhos e bons tempos em que o dinheiro estava presente, mas não era fundamental. Anos em que havia interesses individuais, mas os problemas de Arroio do Meio estavam acima de tudo, inclusive das vaidades pessoas. Tudo mudou. Para pior. Uma pena!
Por Gilberto Jasper

