
No início do mês de maio, completaram-se 5 anos da morte de Aldir Blanc (1946-2020).
Você pode dizer que nunca ouviu falar do homem. Pode dizer: grande coisa! morre gente a toda hora!. E tem razão, claro. Porém… o caso é que vale a pena destacar a história de Aldir Blanc. É mesmo uma pena deixar de curtir a obra de Aldir Blanc e a lembrança da morte dele pode funcionar como um incentivo a mais.
Aldir é um dos grandes nomes da música popular brasileira. Foi escritor, compositor e letrista de canções inesquecíveis. Várias dessas têm cadeira cativa na lista das minhas favoritas. Especialmente, quando interpretadas por Elis Regina. É o caso de “O bêbado e o equilibrista”, “Querelas do Brasil”, “Dois pra lá, dois pra cá”; “Rancho da goiabada”…
Aldir estudou medicina, especializou-se em psiquiatria. Muito cedo, porém, deixou a profissão. A experiência de perder as filhas gêmeas recém-nascidas, sem conseguir fazer nada, foi demais para ele. O trauma teve tal impacto que o fez mudar
o rumo da vida. Passou a dedicar-se a escrever e a compor. Aqueles que gostam de ouvir música boa com letra melhor ainda, aplaudem a guinada.
Aldir Blanc deixou um acervo de mais de quinhentas composições, nas quais demonstra excepcional intimidade com as palavras. Organiza as frases em arranjos tão belos quanto inesperados. É capaz de dizer exatamente o que nós pensávamos, mas não atinávamos com o jeito de botar em palavras.
Lidar artisticamente com as palavras é um trabalho mais delicado e mais complexo do que muita gente pensa. E, talvez, o mais difícil de tudo seja escrever de forma fácil. É exatamente esta a especialidade de Aldir Blanc. Ele foi capaz de vestir de gala a linguagem bem popular. Sabia comentar as coisas do cotidiano com uma pegada ímpar. Para conseguir esse efeito, várias das letras de Aldir Blanc fazem uma espécie de reprodução de diálogos. Isso se dá, por exemplo, em “Amigo é pra essas coisas”.
“Amigo é pra essas coisas” é uma canção linda. Você devia ouvir. Mostra o encontro de dois velhos companheiros em um bar. No final, aquele que está mais triste agradece: “Muito obrigado por ter me ouvido”. O outro responde: “Amigo é pra essas coisas”.
Com as facilidades atuais, dá para encontrar Aldir
Blanc no YouTube, no Spotify. É uma barbada. E para encorajar você a fazer isso, copio abaixo alguns versos memoráveis do poeta que acaba de partir:
“O tempo sabe passar, eu não sei.”
“Custei a compreender que fantasia
É um troço que o cara tira no Carnaval
E usa nos outros dias.”
“Ela me disse que a dor é o lugar
Onde o prazer sentou pra descansar.”

