Há um ano, em maio de 2024, quando o município de Travesseiro enfrentava as consequências da catástrofe climática, Joana Fussinger, 32, viveu outro tipo de tempestade: as contrações do nono mês de gestação. A enchente que alagou e danificou parte da cidade, marcou o início da vida de Luis Augusto, hoje com 11 meses de vida, o menino que deu esperança e alegrias para a família em meio ao caos.
A empreendedora via sua gestação chegar ao fim. O sonho de Joana era ter um parto normal. Mas a família entrou em um dilema: a cidade estava sem ponte. A principal via de acesso ao hospital de Lajeado tinha sido levada pela força da água e a outra estava completamente interditada. O que deveria ser um dos momentos mais planejados e especiais por se tornar mãe pela primeira vez, transformou-se numa corrida contra o tempo, em um cenário de colapso logístico e emocional, se demorasse muito para chegar no hospital, poderia haver algum efeito colateral na criança.
Na semana da catástrofe, Joana estava com 37 semanas e meia de gestação, o que acendeu um alerta, imaginando que o filho poderia vir ao mundo a qualquer momento. Na semana seguinte à grande enchente, o rio voltou a subir bloqueando os acessos que ainda estavam disponíveis. “Infelizmente a gente não tinha outra opção. Estávamos sem luz e sem comunicação. Se o Luis viesse ao mundo naquela semana, a chegada ao hospital teria que ser através de helicóptero. Os policiais militares que estavam na cidade, volta e meia vinham até mim e brincavam, ‘não queremos ainda fazer um parto’. Felizmente isso não aconteceu”, relembra.
Quando Joana entrou em trabalho de parto no primeiro dia de junho, recebeu a sugestão de familiares de ir por Roca Sales, passar por Estrela e então chegar no Hospital Bruno Born. Ou ir por Coqueiro Baixo, saindo pela Barra do Fão e descer pela BR – 386. Ambas as situações levariam cerca de duas horas e meia até o destino, pois naquele momento as estradas estavam praticamente intransitáveis, com muito barro ou acessos bloqueados por deslizamentos de terra. Joana corria o risco de ter a criança no meio do caminho. Felizmente, com um acesso liberado que passava por Forqueta, a jovem mãe tentou atendimento no hospital de Arroio do Meio, onde foi muito bem atendida. “Apesar de tudo que estávamos vivendo, eu me senti tranquila. Minha família me deu apoio e o Luiz nasceu, não por parto normal como sonhei, fizemos cesárea. Agora estamos felizes”, finaliza. O menino nasceu em 1º de junho com 3,750 kg.
ENERGIA PARA TOCAR O NEGÓCIO
Paralelo a este cenário, Joana e o marido Everton Luiz Gabrielli, 39, são donos de uma padaria no Centro da cidade, chamada ‘Delícias da Jô’. Durante os dias mais críticos da catástrofe, enquanto a maior parte dos comércios fechou as portas, o evento climático interrompeu o fornecimento de energia elétrica por 10 dias e isolou muitas comunidades. Mesmo gestante, Joana decidiu que a padaria da família permanecesse ativa. Sem luz e sem comunicação, foi um dos poucos pontos de abastecimento que estava em funcionamento para os moradores que buscavam alimentos. “Como nos mercados não havia mais pão, nós fomos os únicos que ainda produziam. Por dia, eram amassados à mão aproximadamente 100 pães dentre caseiros e pães de milho”, recorda.


